
Rio +20, protesto da sociedade pela processo anti-democrático que não considerou a posição das ONG. FotoÇ de Fabio Rodrigues Pozzebom ABr
Um dia depois de pedir a retirada da referência ao apoio da sociedade civil no texto final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, representantes de organizações não governamentais brasileiras devolveram ontem (20) seus crachás, em um ato simbólico de protesto. Paralelamente, uma carta de repúdio assinada por cerca de 50 ícones do movimento ambientalista mundial foi divulgada na internet criticando as negociações.
Os ativistas também criticam o processo de participação na construção do texto da Rio+20, que classificaram como restrito, tanto por influência da ONU como do governo brasileiro, e cobraram uma “discussão mais qualificada” dos temas ambientais. Para Adriana Ramos e Marcelo Cardoso, o resultado da Rio+20 está “descolado” das reivindicações da sociedade em todo o mundo.
Já a carta divulgada pelos ativistas, em cerca de meia página, sugere que o texto da ONU traz “cômodas
Leia a carta a seguir e assine: http://www.ipetitions.com/petition/the-future-we-dont-want/.
O CEA já assinou.
O FUTURO QUE NÃO QUEREMOS
“Sem o nosso consentimento!!! Removam ” com a plena participação da Sociedade Civil” presente no parágrafo 1 do texto oficial.
Nós – organizações da sociedade civil e movimentos sociais e de justiça que responderam ao apelo da Assembléia Geral das Nações Unidas para participar no processo da Rio +20 – acreditamos que o estado atual das negociações ameaça severamente o futuro de todos os cidadãos do mundo e compromete a relevância e credibilidade das Nações Unidas.
Depois de mais de dois anos de intensas negociações e milhões de dólares investidos na conferência ONU CDS 2012 Rio+20, os governos permanecem incapazes e demonstram falta de vontade em reafirmar os compromissos que fizeram no Rio em 1992 em matéria de princípios fundamentais.
Os governos devem ter presentes que recebem seus mandatos a partir das pessoas, dos seus eleitores e que para que tem o dever de agir no seu melhor interesse. Governantes devem estar imbuídos de uma visão a longo prazo, de uma mentalidade ecologicamente informada, para assim garantir o desenvolvimento sustentável das civilizações e o melhor futuro para todos, o futuro que todos nós realmente queremos.
Embora os governos são aparentemente incapazes de lidar resilientemente com a actual crise econômica global (um problema assumido na reunião do G20 neste fim de semana no México), nós acreditamos que este é o momento perfeito, com caracter potencialmente catártico, para adotar o desenvolvimento sustentável, e medidas de justiça social e ambiental. Esta não é a hora de abandonar estes valores por razões de políticas fiscais de austeridade ou por alegadas pressões de pró-crescimento no hemisfério Norte. Por isso, apelamos ao Governo do Brasil, ao Secretário-Geral da UN CSD e todos os Estados-Membros a parar de negociar suas agendas nacionais de curto prazo e a acordar urgentemente em acções de transição para o progresso sustentável global.
Queremos que os Governos forneçam ao povo sua legítima agenda e a realização dos seus direitos, da democracia e da sustentabilidade, bem como o respeito pela transparência, responsabilidade e que honrem as promessas e progressos feitos até hoje. Infelizmente, o tempo está se esgotando. Um acordo apressado e ineficiente não será aceitável para nós, nem representará o futuro que todos queremos.
Apelamos aos nossos concidadãos, 99% do mundo a erguerem-se pelo futuro que realmente queremos, e não este imposto por uma minoria: 1% , negociadores e elites constituintes.
Em suma, que as vozes da maioria finalmente moldem o futuro.

Anderson Alexis, do CEA, filiado a APEDEMA-RS, marcou presença do movimento ecológico de Rio Grande e Pelotas do RS na Rio + 20. Foto: CEA
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2 comentários
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junho 23, 2012 às 12:18 pm
roosevelt s. fernandes
O PRESENTE QUE TEMOS QUE REAVALIAR
Rio+20 – Poucas decisões, mas há mudança de paradigma.
Lembra-se da estória dos ratos que, dado a ameaça de um novo gato que despontou na região, decidiram que a solução definitiva do problema seria colocar uma sineta no pescoço do gato? Devem lembrar, também, do desfecho: o plano infalível não deu certo, pois ninguém se ofereceu, entre os ratos, para colocar a sineta no gato.
Reflitam um pouco em relação ao espaço histórico entre a Conferência de Estocolmo e a Rio+20. Qualquer semelhança deve ser motivo de uma saudável e profunda reflexão.
Na realidade, ao longo do caminho, um conflito explícito ou não de inevitáveis interesses econômicos, entre os países desenvolvidos – que não querem parar de crescer – e os emergentes (que precisam crescer).
Em relação a Rio+20, entre novas frases recheadas de velhos temas, fica evidente uma mudança de paradigma: a necessidade da sociedade – não apenas os iniciados no assunto – ser inserida na discussão e decisões relativas ao cenário ambiental, local e global.
O conceito do Desenvolvimento Sustentado – foco simultâneo da análise das variáveis econômicas, sociais e ambientais – agora passa a incorporar (não apenas na concepção, mas na prática) a necessidade de levar em conta o que a sociedade (quarto ponto de enfoque) “percebe”, “deseja” e “está disposta a pagar” quando se procura aplicar o princípio do Desenvolvimento Sustentado.
Da velha geometria sabemos que por três pontos não alinhados – focos econômico, ambiental e social – passa sempre um, e somente um, plano. As coisas mudam quanto aparece um quarto ponto – sociedade – onde, por consequência, necessariamente, não há um plano único que atenda aos quatro pontos.
A procura da Sustentabilidade é a conciliação dos muitos planos, tendo como pano de fundo a percepção ambiental, social e econômica da sociedade.
Para alguns pode parecer que a mudança é de pouca importância; muito pelo contrário, se efetivamente adotada irá gerar condições mais favoráveis, decorrentes da pressão da sociedade consciente, frente ao segmento político, agente que comanda todo o processo.
Claro que não será uma mudança brusca, uma vez que a sociedade precisa reconhecer o seu papel neste processo e, sobretudo, procurar se preparar para ocupar seu espaço de participação nas decisões.
Será a sociedade que irá pagar a conta que terá de ser assumida na solução da problemática ambiental que vivenciamos. Isso, pois esta mesma sociedade ainda não se apercebeu que já está pagando a conta (sem saber) da fase de procura de quem irá “colocar a sineta no gato”.
Concluindo: com a participação da sociedade será possível afastar o gato e não apenas colocar a “sineta no pescoço do gato”.
Alguém tem dúvida disso?
Roosevelt S. Fernandes, M. Sc.
Conselheiro do Conselho de Meio Ambiente da FINDES e do Conselho de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da FAES, bem como do CONSEMA e CERH e do Fórum Estadual de Mudanças Climáticas (ES)
roosevelt@ebrnet.com.br
junho 25, 2012 às 11:41 am
Elaine Batista
Concordo com o Roosevelt, faz-se necessario agora trabalhar com vista a uma maior concientização e participação social. Todos os mecanismos de participação social deverá ser buscado agora por ongs e “iniciados”.