por Cíntia Barenho
Já se vão uns sete anos desde que, o grande projeto para superar as décadas de estagnação econômica da Metade Sul – a plantação de monoculturas de eucaliptos – surgiu para tomar “conta do Pampa”. Projeto esse que não era somente voltado à produção de eucaliptos, mas também à produção de celulose (derivado do mesmo).
Eram três grandes projetos – da Aracruz, da Stora Enzo (Finlândia) e da Votorantim Celulose e Papel (VCP) – que pretendiam investir cerca de US$ 3,5 bilhões de dólares em sete anos, de forma socialmente responsável e ecológica (até áreas degradadas pretendiam recuperar).
Nos jornais gaúchos imperava a (des)informação comemorando os investimentos, nos quais as manchetes destacavam: “A origem do Ouro Verde”, “O futuro à sombra das florestas”, “A metade sul depois das florestas”, “A polêmica Verde”. Num destes, considerado de maior circulação no RS, uma parágrafo fazia a seguinte menção:
“em tempos idos entre 2003 e 2006 nas discussões sobre o futuro da humanidade no Café Aquário, em Pelotas, ou à boca pequena entre as autoridades do Palácio Piratini, se tornou corriqueiro dizer que a metade sul iria virar floresta. Sabia-se que se tratava de uma metáfora, mas ainda havia dúvida sobre seu tamanho. O quanto os investimentos das gigantes da celulose Aracruz, Stora Enso e Votorantim seriam capazes de transformar em investimento ondulante e ralo do pampa gaúcho? Pois agora se sabe: é 4,5%” (ZH,2008)
Já se passaram esses sete anos, os jornais emudeceram, juntamente com os políticos locais, mas nós, ecologistas, questionamos os porquês de tal silêncio. Onde está o progresso trazido pelo deserto verde? Onde está o desenvolvimento, os empregos, as mudanças sociais, a recuperação das áreas degradadas, a preservação e conservação da pampa em unidades de conservação?
De 2009 até os atuais dias, uma tal crise do capitalismo, confirmou o pensamento de Karl Marx, no qual afirmava “…tudo o que é sólido desmancha no ar…” . Sendo assim, a toda poderosa Aracruz foi a incorporada pela VCP, na qual transformou-se em Fibria. Logo após a Borregaard, que virou Riocel, que virou Aracruz, que virou Fibria, foi vendida pra um grupo chileno e tornou-se a Celulose Riograndense da Compañía Manufacturera de Papeles y Cartones (CMPC). Na Metade Sul a Fibria anunciou que pode vender Projeto Losango para reduzir dívida, como afirma a notícia “
A Fibria está estudando a venda de dois ativos considerados não-estratégicos: “…estamos tentando verificar se (o projeto) Losango tem atratividade para outros usos, como energia e cavaco para exportação”. A faixa de fronteira até agora não foi mudada, inclusive teve PEC arquivada, para tristeza da empresa finlandesa que buscava cumprir a lei, desde que essa, mudasse a seu favor.
Assim, nesse dia 21 de setembro – de Luta contra as Monoculturas de Árvores Exóticas- a luta ecológica segue, pois esses investimentos predatórios saíram do Pampa, e encontraram condições favoráveis no Mato Grosso do Sul, Maranhão, na Bahia. O Sul da Bahia segue sendo devastado pelo empresa Veracel Celulose no qual já é detentora de vastas áreas sobre comunidades quilombolas e indígenas. Inclusive as entidades locais estão com abaixo-assinado pedindo a anulação do processo de licenciamento da ampliação da Fábrica e da base florestal daquela empresa. E em outras áreas do mundo, povos e comunidades seguem também mobilizados e denunciando a degradação ecológica advindo da expansão das monoculturas de árvores, como o caso de Moçambique
Enfim, lutar contra essas monoculturas de árvores, no Ano Internacional das Florestas pela Organização das Nações Unidas (ONU), significa lutar pela biodiversidade dos ecossistemas, nos quais as florestas são entendidas como um sistema complexo, na qual as árvores são um dos elementos. Infelizmente a definição de “floresta” usada pela Food and Agriculture Organization (FAO) e o debate acerca do Código Florestal, agora no Senado Federal, nos fazem seguir mobilizados lutando contra um monofuturo.
Cíntia Barenho é Mestre em Educação Ambiental, Bióloga e integrante da coordenação do Centro de Estudos Ambientais (CEA-Pelotas/RioGrande RS)
4 comentários
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setembro 21, 2011 às 8:33 am
Geraldo A. Lobato Franco
Ora, quem quiser se iludir com a cascata de imprensa, não faça cerimônia. O que não podem é cometer suicídio no processo de apoiar esse tipo de maluquice oficializada.
Olhaí, pelo menos um morto na explosão nuclear na França e garantida uma possivelmente grande (até agora não se sabe quanto) poluição no Sul daquele país.
Comparado com Fukushima essa aí das monoculturas de espécies exóticas e importadas, não passa de xixi de peixe de aquário.
Caim na real, têm tempestades piores nos ameaçando no horizonte . . . isso aí é só um chuvisco, só pra ver se o seu sombrero está furado . . .
setembro 21, 2011 às 6:14 pm
Heverton Lacerda
Muito bem lembrado Cíntia. Temos que lembrar dessas mentiras que nos pregam o tempo todo. Afinal, quais são as façanhas que queremos que sirvam de modelo?
setembro 21, 2011 às 11:01 pm
Geraldo A. Lobato Franco
Heverton,
tenho um amigão velho e antigo morando numa cidadezinha minúscula, no Condado de Ventura, quase à beira do Pacífico, na Califórnia.
Esse amigo, o Clive, escreve bem e defende o meio-ambiente na medida que pode e que acha que deve. Até aí tudo joia. Bato palmas pra ele.
Noutro dia abriu um tremendo auê na defesa e proteção de uma meia dúzia de carvalhos, uma árvore bonita por ser uma retorcida anciã, sobrevivente talvez de uma dúzia, ou mais, de incêndios florestais desde que nasceu há um ou dois séculos atrás. Uma árvore poética, digamos.
Recebi as suas msgs e a minha resposta foi-lhe mais ou menos a respeito de que se deva proteger: a qualidade ou a quantidade?
Ó dilema retróz . . .
Defender meia dúzia de árvores enquanto milhões de suas irmãzinhas, não menos valiosas e poéticas são dizimadas no norte brasileiro, no norte canadense e norte-americano . . . ora, francamente . . .
Cara, acorda!
Estão defendendo a resolução de um problema ab-so-lu-ta-men-te secundário!
Em termos de pessoas afetadas, em termos de finanças e investimento realizado, em termos de trabalho e mão de obra, em termos de uso ou desuso de água e energia, em termos de poluição maciça, em termos de risco e que mais, me diz que mais Heverton, por favor! Quê mais, einn?
Os modelos nos são forçados goela à baixo, trombeteados pelos lobões e pelos tubarões, sejam eles de onde forem, isso não se discute. E carneirinhos tontinhos seguem essa valsa, enquanto que marcham inexoravelmente a favor dos safadões dos vigaristas que acendem fogueiras pra criar cortinas de fumaça e impedir que sua igrejinha seja
destruída: golpe velho.
O que se discute é que — O PRINCIPAL NESSE MOMENTO É IMPEDIR QUE SE CONSTRUAM MAIS TERMONUCLEARES.
O resto, exceto a destruição sistemática e científica da Amazônia, e outras ações de massa e de alto investimento, Belo Monte, por exemplo, não passam, repito, de xixi de peixe de aquário.
Existe uma hierarquia de nossos alvos nessa luta contra o que esteja tão errado na nossa Terra.
Me desculpe mas Chernobyl, Fukushima, Goiânia – talvez em pequena escala, Three Miles Island e agora a explosão no sul da França, são problemas MUITÍSSIMO MAIS GRAVES QUE AS PLANTAÇÕES DE EUCALIPTOS OU DE GMELINA — da qual, por sinal, NINGUÉM JAMAIS RECLAMOU NA ÉPOCA EM QUE O LUDWIG NOS INVADIU PELO AMAPÁ A DENTRO, e que creio eu, o movimento ecológico desconhecia porque tal coisa, ecologia, era desconhecido nessas bandas. Não se sabia o que era.
Será que já se sabe hoje? Tenho dúvidas !!!
Heverton, acordamos muito tarde e a missa já acabou !!! Agora é distribuição de bolos: e haja bolo !!!
Poizé: aonde eu morava não era nada desconhecido. Daí a minha percepção crítica a esse tipo de prioridade dada aos eucaliptos — totalmente equivocadinha . . . conheço a jogada e, aviso aos navegantes, estão na onda errada.
Vamos crescer, criançada, vamos . . . tá na hora . . .
setembro 20, 2012 às 6:13 pm
Sustentam um ode aos gaúchos, enquanto envenenam e destroem o Pampa e o Rio Grande « OngCea
[…] Notícia na “rua”, aparece gente saudando tal ação, como se o tal progresso advindo dos desertos verdes tivesse de fato chegado. […]