Dos 18 deputados federais que integraram a comissão especial do Código Florestal, em julho/2010, 13 receberam juntos aproximadamente R$ 6,5 milhões doados por empresas do setor de agronegócio, pecuária e até do ramo de papel e celulose durante campanha à reeleição, de acordo com as declarações disponíveis no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Dentre os que arrecadaram verba em empresas do segmento ruralista, apenas um não conseguiu se reeleger. Em julho/2010, quando o projeto foi submetido à análise desta comissão, o novo código foi aprovado por 13 votos a 5. Ambientalistas criticam a reforma por tornar o Código Florestal menos rígido e abrir brechas para anistiar desmatadores.
Pelos dados no TSE, as doações feitas pelas empresas desmatadoras foram concentradas nas campanhas dos deputados que votaram a favor. Dos 13, apenas dois não receberam ajuda do agronegócio, sendo que um foi barrado pela Ficha Limpa e o outro acabou não conseguindo se reeleger. Os outros 11 deputados federais ganharam juntos pouco mais de R$ 6,4 milhões.
O montante doado por empresas desmatadoras financiou aproximadamente 32,5% dos gastos totais da campanha eleitoral destes 11 parlamentares. Somados, os valores declarados – contando todas as doações – chegam a R$ 20 milhões. Em média, a bancada ruralista custeou 30% da campanha com este dinheiro.
Entre os que votaram a favor da mudança está o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Ele não só apoiou à reforma como também é o relator do novo Código Florestal. Rebelo garantiu sua permanência no cargo após receber mais de 130 mil votos no Estado de São Paulo. O deputado declarou ter utilizado aproximadamente R$ 172 mil vindos de cooperativas que representam cafeicultores, citricultores e agropecuaristas.
Apesar de relator da comissão especial, Rebelo foi um dos que menos recebeu ajuda no grupo dos 13 ruralistas que votaram a favor. No topo da lista está o deputado federal, também reeleito, Marcos Montes (DEM-MG). Ele ganha dos colegas tanto por ter recebido o maior montante de investimento quanto pela parcela que esse dinheiro representou nas suas receitas durante a campanha.
Montes arrecadou cerca de R$ 1 milhão só de pecuaristas, usineiros e exportadores de papel. Esta quantia corresponde à metade das doações totais recebidas pelo, então, candidato, que foi de R$ 2 milhões.
O parlamentar do DEM não é um caso isolado. O segundo da lista também conseguiu um valor próximo. Duarte Nogueira (PSDB-SP), que concorreu à reeleição para deputado federal em São Paulo, angariou R$ 955 mil de empresas interessadas na aprovação do novo Código. O tucano, que em sua página no site da Câmara dos Deputados declara ser engenheiro agrônomo, agricultor e pecuarista, é o preferido pelas indústrias de papel. Pelo menos quatro nomes de empresas diferentes deste segmento constam em seus dados no TSE.
Bancada “verde”
Pelo lado da bancada ambientalista, dois dos cinco que votaram contra o novo código também custearam a campanha com verba doada pelas mesmas empresas, mas, para estes, o valor foi inferior aos dos outros colegas. A dupla recebeu no total R$ 150 mil.
O verde Sarney Filho (PV-MA), por exemplo, declarou ter utilizado R$ 30 mil transferidos por uma empresa que já foi notificada pelo MPF (Ministério Público Federal) por revender carne e outros derivados do boi cuja origem é a criação ilegal de gado em áreas desmatadas.
O segundo deputado que, apesar de ser da bancada ambientalista, conta com doações do agronegócio é Ricardo Tripoli (PSDB/SP). Ele registra R$ 120 mil.
Agronegócio
A Bunge Fertilizantes, uma das principais empresas do agronegócio, é um exemplo de que a doação para campanhas de deputados não foi feita de forma aleatória. A empresa é a que mais vezes aparece nas declarações dos deputados da bancada ruralista.
Ela contribuiu com as despesas de oito dos 13 que votaram a favor do novo código e que concorreram à reeleição. Destes, sete receberam o valor igual de R$ 70 mil e um ganhou R$ 80 mil, o que resulta em R$ 500 mil distribuídos somente entre políticos da comissão especial.
No total, a Bunge doou pouco mais de R$ 2,5 milhões para candidatos que participaram do processo eleitoral. Portanto, 20% do total destinado por essa empresa às campanhas políticas ficaram no grupo de ruralistas da comissão especial, já que a soma de doações feitas para estes oito candidatos alcançou R$ 500 mil.
Trâmite
Quase um mês após o fim das eleições, os deputados ruralistas que participaram da comissão já ensaiam uma investida para incluir o polêmico projeto na pauta do plenário ainda este ano. Na última quarta-feira (3), estas lideranças se reuniram em um restaurante de Brasília para traçar uma estratégia para conseguir uma brecha na pauta da Câmara dos Deputados. Se aprovada novamente, a reforma é encaminhada para o Senado e depois para o presidente, que decide se a reforma deve ser sancionada ou não.
Outro lado
Todos os deputados citados foram procurados pelo R7. Mas, a maioria não quis comentar o assunto.
Rebelo disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não vai se pronunciar sobre o caso. Já Montes e Tripoli (PSDB-SP) não foram localizados pela reportagem.
O tucano Duarte Nogueira foi o único que aceitou conversar com o R7. O deputado federal explicou que “não é de hoje” que recebe doações do setor agrícola. Ele afirma que tem “profunda identidade” com este segmento produtivo e que defendeu a aprovação do Código Florestal independentemente de ter recebi doações do agronegócio.
– Não há como criar expectativa de qualquer ilação de que eu fiz isso [votar a favor da reforma], porque recebi [doação do agronegócio]. Tanto que esta é minha história de vida. Tenho uma profunda identidade com o setor agrícola não é de agora. Se você for pegar minha primeira prestação de contas em 2006, a grande maioria das minhas doações já vinha do setor agrícola.
A Bunge Fertilizantes também se manifestou sobre as doações citadas nesta matéria. Em nota, a empresa defendeu que não há nenhuma ilegalidade no fato, pois “o sistema político brasileiro prevê o financiamento privado das campanhas”. Porém, a doadora também admite que escolhe políticos com mesma linha de pensamento da empresa, mas desmente que, nestas eleições, tenha financiado campanhas “em função de questões ou de projetos específicos”.
Fonte: TerraChamando/R7
7 comentários
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maio 4, 2011 às 8:42 pm
jose robroberto
E quanto receberam os ambientalistas de ONGs. internacionais para defenderem seus interesses. Alguém tem informações ? Não acredito que estão declarados os valores nas verbas de campanha.
maio 4, 2011 às 10:26 pm
ONG Cea
Caro José, caso tenhas conhecimento de alguma doação legal ou ilegal para ONGs, deves mencionar claramente e nao insinuar de forma irresponsável.
Podemos falar por nós. Não recebemos nenhum recurso para defender o Código Florestal.
Também podemos afirmar que as ONGs não são homogêneas. Existem muitas diferenças e oportunismos, mas isso não tira a validade da rejeição ao desmatamento.
Saudações Ecológicas
maio 23, 2011 às 12:53 pm
Mario
Há, no mínimo, uma grande maldade chamar ruralistas PRODUTORES de desmatadores. Do outro lado, os ambientalistas, com toda propriedade, podem e devem ser chamados de GENOCIDAS, pois inocentemente ou não, estão promovendo a redução da produção de alimentos no planeta:
A grande farsa do Aquecimento Global 1
maio 23, 2011 às 4:29 pm
ONG Cea
Caro Mario 2007 (ja que tu nao te identificasse),
o CEA nao entende que todos os ruralistas sejam desmatores ou produtores. Existem muitos ruralistas que respeitam as APPs, as RLs e outras leis ambientais, alem de terem compromisso com tal questão e garantirem alimentos para os humanos. Tb existem muitos ruralistas que desmatam a florestas e a mata. Estao ai as multas e condenações para comprovarem. E tb existem ruralistas que são grandes investidores, que colocam seu dinheiro em outras areas da economia, conforme o mercado e sua ganancia.
Quanto aos ambientalistas (ecologistas termo mais adequado) tu tens razão. Alguns são inocentes e outros sao “culpados”, mas não de acabar com a produção de alimentos, mas sim por proteger a vida, inclusive a dos ruralistas desmatodres ou especuladores.
A fome no mundo é uma questão de injusta distribuição de renda e não falta de alimentos.
Por fim, nao falemos em farsa do aquecimento global ou das mudanças climáticas (expressão mais adequada), mas sim em quem se beneficia com tal situação.
Saudações Ecológicas
maio 26, 2011 às 4:18 pm
Rafael
Santa ignorância… Você pensa exatamente como os “ruralistas” querem e fazem que você pense. Você realmente acredita que essa alteração no código é para beneficiar os pequenos produtores de alimentos??? Não é possível que você seja tão estúpido… A população incrivelmente aderiu à essa dicotomia “ruralistas” versus “ambientalistas” e não percebem que isto é uma estratégia para personificar os “ambientalistas” como sendo o lado mal da história! Por favor, acordem! TODOS nós deveríamos ser AMBIENTALISTAS, pois nós DEPENDEMOS da integridade da natureza para sobrevivermos com conforto e não o contrário! Esse código demonstra o que nosso país sempre foi: uma OLIGARQUIA em que quem manda é uma minoria infinitamente gananciosa que não consegue enxergar nada além de seus próprios umbigos!
maio 28, 2011 às 7:55 pm
Maria Luiza Longhi
Parabéns pelo trabalho.
Abraços
Malu
maio 29, 2011 às 1:20 pm
Leila
A afirmação no vídeo de que existem forças que visam “Impedir o desenvolvimento dos países subdesenvolvidos” toma como pressuposto que os países chamados de “primeiro mundo” são “desenvolvidos”, porém, o modelo econômico seguido por estes países é insustentável e por isso não deve ser uma referência ou exemplo para o “terceiro mundo”. Além disso, “nos países desenvolvidos o capitalismo resultou de um processo endógeno (interno), ou seja, desenvolveu-se a partir da própria sociedade. No Terceiro Mundo o capitalismo foi imposto de fora, isto é, resultou de um processo exógeno (externo). As sociedades que existiam nos países colonizados – por exemplo as sociedades indígenas ou a milenar sociedade indiana – acabaram sendo destruídas ou submetidas a um novo modelo social, colonial.”*
*http://professorpereira.blogspot.com/2007/09/desenvolvimento-e-subdesenvolvimento.html