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Passamos nossas carreiras de cineastas sustentando que a mídia norte-americana é frequentemente incapaz de informar os cidadãos sobre as piores ações de nosso governo. Portanto, ficamos profundamente gratos pelas realizações do WikiLeaks, e aplaudimos a decisão do Equador de garantir asilo diplomático a seu fundador, Julian Assange – que agora vive na embaixada equatoriana em Londres.
Por Michael Moore e Oliver Stone*
O Equador agiu de acordo com importantes princípios dos direitos humanos internacionais. E nada poderia demonstrar quão apropriada foi sua ação quanto a ameaça do governo britânico, de violar um princípio sagrado das relações diplomáticas e invadir a embaixada para prender Assange.
Desde sua fundação, o WikiLeaks revelou documentos como o filme “Assassinato Colateral”, que mostra a matança aparentemente indiscriminada de civis de Bagdá por um helicóptero Apache, dos Estados Unidos; além de detalhes minuciosos sobre a face verdadeira das guerras contra o Iraque e Afeganistão; a conspiração entre os Estados Unidos e a ditadura do Yemen, para esconder nossa responsabilidade sobre os bombardeios no país; a pressão do governo Obama para que outras nações não processem, por tortura, oficiais da era-Bush; e muito mais.
Como era de prever, foi feroz a resposta daqueles que preferem que os norte-americanos não saibam dessas coisas. Líderes dos dois partidos chamaram Assange de “terrorista tecnológico”. E a senadora Dianne Feinstein, democrata da Califórnia que lidera o Comite do Senado sobre Inteligência, exigiu que ele fosse processado pela Lei de Espionagem. A maioria dos norte-americanos, britânicos e suecos não sabe que a Suécia não acusou formalmente Assange por nenhum crime. Ao invés disso, emitiu um mandado de prisão para interrogá-lo sobre as acusações de agressão sexual em 2010.
Todas essas acusações devem ser cuidadosamente investigadas antes que Assange vá para um país que o tire do alcance do sistema judiciário sueco. Mas são os governos britânico e sueco que atrapalham a investigação, não Assange.
Autoridades suecas sempre viajaram para outros países para fazer interrogatórios quando necessário, e o fundador do WikiLeaks deixou clara sua disposição de ser interrogado em Londres. Além disso, o governo equatoriano fez uma oferta direta à Suécia, permitindo que Assange seja interrogado dentro de sua embaixada em Londres. Estocolmo recusou as duas propostas.
Assange também comprometeu-se a viajar para a Suécia imediatamente, caso o governo sueco garanta que não irá extraditá-lo para os Estados Unidos. Autoridades suecas não mostraram interesse em explorar essa proposta, e o ministro de Relações Exteriores, Carl Bildt, declarou inequivocamente a um consultor jurídico de Assange e do WikiLeaks que a Suécia não vai oferecer essa garantia. O governo britânico também teria, de acordo com tratados internacionais, o direito de prevenir a reextradição de Assange da Suécia para os Estados Unidos, mas recusou-se igualmente a garantir que usaria esse poder. As tentativas do Equador para facilitar esse acordo entre os dois governos foram rejeitadas.
Em conjunto, as ações dos governos britânico e sueco sugerem que sua agenda real é levar Assange à Suécia. Por conta de tratados e outras considerações, ele provavelmente poderia ser mais facilmente extraditado de lá para os Estados Unidos. Assange tem todas as razões para temer esses desdobramentos. O Departamento de Justiça recentemente confirmou que continua a investigar o WikiLeaks, e os documentos do governo australiano de fevereiro passado, recém-divulgados afirmam que “a investigação dos Estados Unidos sobre a possível conduta criminal de Assange está em curso há mais de um ano”. O próprio WikiLeaks publicou emails da Stratfor, uma corporação privada de inteligência, segundo os quais um júri já ouviu uma acusação sigilosa contra Assange. E a história indica que a Suécia iria ceder a qualquer pressão dos Estados Unidos para entregar Assange. Em 2001, o governo sueco entregou à CIA dois egípcios que pediam asilo. A agência norte-americana entregou-os ao regime de Mubarak, que os torturou.
Se Assange for extraditado para os Estados Unidos, as consequência repercutirão por anos, em todo o mundo. Assange não é cidadão estadunidense, e nenhuma de suas ações aconteceu em solo norte-americano. Se Washington puder processar um jornalista nessas circunstâncias, os governos da Rússia ou da China poderão, pela mesma lógica, exigir que repórteres estrangeiros em qualquer lugar do mundo sejam extraditados por violar suas leis. Criar esse precedente deveria preocupar profundamente a todos, admiradores do WikiLeaks ou não.
Conclamamos os povos britânico e sueco a exigir que seus governos respondam algumas questões básicas. Por que as autoridades suecas recusam-se a interrogar Assange em Londres? E por que nenhum dos dois governos pode prometer que Assange não será extraditado para os Estados Unidos? Os cidadãos britânicos e suecos têm uma rara oportunidade de tomar uma posição pela liberdade de expressão, em nome de todo o mundo.
*Michael Moore e Oliver Stone são cineastas.
Fonte: Outras Palavras
Em telegrama, embaixador é favorável à redução de reserva legal
O Código Florestal, cuja proposta de alteração volta à plenária da Câmara hoje, foi tema de um telegrama escrito pelo embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, em fevereiro deste ano.
Nele, Shannon transmite uma visão favorável à redução da reserva legal – uma das principais propostas do projeto de lei de de autoria de Aldo Rebelo.
O PL prevê reduzir a proporção da propriedade que deve manter a vegetação nativa (por exemplo, na Amazônia ela cairia de 80% para 50% da propriedade), além de extinguir a exigência da reserva legal para pequenas propriedades. O projeto também anistia quem não preservou e ocupou indevidamente encostas e beiras de rios.
A bancada ruralista no Congresso pressiona pela votação do projeto ainda este ano, enquanto o governo quer deixar para o próximo. O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT/SP) colocou o pedido de urgência na tramitação em votação, mas garantiu que a votação do projeto em si só sai no próximo ano.
Foco na Amazônia
O telegrama enviado por Shannon às 19:01 do dia 10 de fevereiro deste ano começa com um apanhado histórico sobre a legislação para depois entrar em detalhes sobre a questão da reserva legal. O foco é a Amazônia.
Segundo Shannon, se justifica a decisão do governo Lula de postergar a aplicação da lei – que prevê multas e sanções para os fazendeiros que não respeitarem a reserva legal. “Não é nenhuma surpresa que o governo tenha evitado transformar milhões de fazendeiros em criminosos que poderiam perder suas terras; especialmente em face das eleições de outubro de 2010″.
Vazado pelo WikiLeaks, publicado pelo The Guardian, trazido pela Folha de S. Paulo desta quarta:
A Embaixada dos Estados Unidos em Paris aconselhou Washington a iniciar uma guerra comercial contra qualquer país da União Europeia que se oponha a safras geneticamente modificadas, de acordo com documentos divulgados pelo WikiLeaks.
No final de 2007, a França tomou medidas para proibir uma variedade de milho transgênico que foi criada pela Monsanto. Em resposta, o embaixador, Craig Stapleton, amigo e antigo sócio do ex-presidente George W. Bush, solicitou que Washington punisse a União Europeia.
“A equipe nacional de Paris recomenda que calibremos uma lista de alvos para retaliação que cause incômodo à União Europeia, já que se trata de um caso de responsabilidade coletiva, mas que também se concentre ao menos em parte nos principais culpados”, diz o texto.
“Caminhar na direção da retaliação deixará claro que o caminho atual tem custos reais para os interesses da União Europeia e pode ajudar a reforçar as vozes favoráveis à biotecnologia na União Europeia”, afirmou Stapleton no documento. Ele foi sócio de Bush no Texas Rangers, time de beisebol profissional sediado em St. Louis, nos anos 1990.
A discussão sobre organismos geneticamente modificados é ampla, vai dos possíveis efeitos para a saúde dos consumidores, passando pela perda de biodiversidade no meio ambiente até chegar ao monopólio de mercado – uma vez que há modificações desses grãos que não geram descedentes aptos para serem usados em um novo plantio. Ou seja, você fica refém de uma empresa, que também vai vender os agrotóxicos específicos para cada tipo de cultura.
Sem tirar o mérito dos problemas 1 e 2, preocupo-me especialmente com o terceiro. Pois, isso gera dependência entre produtores e grandes empresas. Se alguém tenta fugir ao pagamento dos royalties do uso das sementes, tem que responder na Justiça.
Há aqueles que tentam manter a produção de organismo tradicionais, mas a contaminação em silos ou no transporte têm desanimado mesmo os grandes produtores – vale lembrar que os não-transgênicos atingem preços melhores no mercado internacional.
Um breve comentário: da aprovação da Lei de Biossegurança, em 2005, ao início do ano passado, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) liberou quatro variedades de soja, 11 de milho e sete de algodão transgênicos. Nove variedades são da multinacional Monsanto, três da multinacional Bayer, quatro da multinacional Syngenta, duas da multinacional Dow Agroquímica, e uma da multinacional Basf (com parceria da nacional Embrapa). Em 2007, as liberações dos milhos transgênicos Liberty Link, da Bayer, e MON 810, da Monsanto (proibido na França, Áustria, Grécia, Luxemburgo, Hungria, Itália, Polônia e Alemanha), foram questionadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que apontaram erros nos pareceres técnicos que fundamentaram as aprovações. Claro, as liberações não foram revertidas, a despeito do risco que isso pode trazer à biodiversidade nacional. Enquanto isso, o Brasil rendeu à Monsanto, de acordo com a revista Exame, US$ 783,9 milhões em vendas em 2006, US$ 899,2 milhões em 2007 e US$ 954,8 milhões em 2008.
Uma característica da maioria dos conselheiros da CTNBio tem sido um posicionamento abertamente favorável às tecnologias transgênicas. Dados levantados por Verena Glass, da Repórter Brasil, apontam que, entre eles, há os que têm ou tiveram, pessoalmente, alguma relação com as empresas de biotecnologia ou com entidades financiadas pelas principais multinacionais do setor, como o Conselho de Informações sobre Biotecnologia e a Associação Nacional de Biossegurança, entidades de lobby pró-transgênicos que têm entre seus associados Basf, Bayer, Cargill Agrícola, Dow Agrosciences, DuPont do Brasil, Monsanto do Brasil, Pioneer Sementes Ltda, e Syngenta Seeds, entre outros).
Cada país tem direito de fazer a política que achar melhor se acreditar que determinado produto pode acarretar em danos para sua população, meio ambiente ou economia. Se outra nação se sentir prejudicada, há fóruns especiais para isso.
Mas com um negócio desse tamanho, sempre vale a pena ir à guerra. Contra a Europa ou qualquer um.
Fonte: http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/01/05/wikileaks-por-transgenicos-eua-deveriam-ir-a-guerra/
- O livro “A Ferro e Fogo”
- Aldo causa polêmica na defesa do meio ambiente
- Aldo Rebelo: “A agricultura não tem relação com as mudanças climáticas”
- As mudanças propostas no Código Florestal: nota técnica e política
- Carta Aberta aos Habitantes do Brasil – Em Defesa da Integridade da Legislação Ambiental Brasileira
- O Código Florestal
- Código Florestal: desce Aldo Rebelo, sobe Ivan Valente
- Código Florestal e o Estado de Direito Ruralista
- Encontros Estadão & Cultura: Especial Planeta, código florestal (1)
- Código Florestal: Ruralistas têm proposta alternativa
- Código pode abrir guerra ambiental
- Combustível para a motosserra
- Floresta não é antinomia de “comida”, defende especialista
- Modificações do Código Florestal para benefício dos latifundiários, artigo de Luiz Zarref
- Ivan Valente grita “truco!” na orelha de Aldo Rebelo
- Livro “Florestas do Brasil em Resumo”
- Na Folha, o neoruralista Aldo Rebelo compõe um samba de doido
- O Código da Motosserra
- O Direito Adquirido dos Rios e o Novo Código Florestal
- Código Florestal é instrumento de disputa, diz embaixador americano
- Verdades e Mentiras sobre o Novo Código Florestal Brasileiro
- Código Florestal: herança maldita de Lula
Novos documentos do site WikiLeaks, obtidos pela Folha, mostram críticas dos diplomatas americanos à atitude brasileira nas negociações internacionais do clima.
Os telegramas foram escritos entre 2008 e 2010. Em um deles, o suposto protagonismo brasileiro na cúpula do clima de Copenhague, no final de 2009, é ironizado.
Segundo a diplomata Lisa Kubiske, “Lula cacarejou” suas conquistas ambientais e sua capacidade de costurar um acordo. Para os EUA, o Brasil teria assumido uma imagem exagerada de “herói” e “cavaleiro branco”.
Os documentos mostram a estratégia dos EUA para atrair o apoio brasileiro para suas propostas. O país pretendia enfraquecer o Itamaraty em favor do MMA (Ministério do Meio Ambiente).
Isso porque se, por um lado, os diplomatas brasileiros eram contra a ideia de que países em desenvolvimento assumissem metas de redução de emissões de CO2, o MMA defendia que todas as nações dividissem a responsabilidade pelos cortes, ainda que levando em conta as limitações dos mais pobres.
Segundo os papéis, o embaixador do Brasil para o clima, Sergio Serra, teria dito que “quem lidera as negociações é o Itamaraty, e Carlos Minc [então ministro do Meio Ambiente] fala apenas sobre as suas opiniões pessoais”.
‘PRAGMÁTICO’
Minc, que sucedeu Marina Silva (descrita como “inflexível e absolutista nas questões ambientais”), era visto como pragmático e parceiro-chave dos EUA para defender que países como China e Índia deveriam ter metas.
O embaixador Clifford Sobel fazia, porém, uma crítica a Minc: “Ele tem tendência a dizer o que gostaria que fosse verdade, e não o que de fato ocorreu”. Minc teria garantido a Sobel, no começo de 2009, que a posição do Itamaraty não prevaleceria.
Ainda assim, dizia Sobel: “O MMA está muito mais preocupado em resolver a questão. O Itamaraty a vê no contexto maior da política externa e está disposto a fazer menos sacrifícios”.
Carlos Minc disse à Folha que de fato havia uma divisão nítida entre seu ministério e o Itamaraty. “O conservadorismo do Itamaraty se alinhava às posições mundialmente mais atrasadas: como quem historicamente poluiu foram os ricos, eles que façam alguma coisa.”
Ele diz que os diplomatas queriam afastá-lo da discussão. “Mas revertemos isso.”
Ele convenceu Lula e a então ministra Dilma Rousseff e, em novembro de 2009, o Brasil anunciou metas de emissão de CO e incentivou outros países em desenvolvimento a fazerem o mesmo.
Sobel apostava, em abril daquele ano, que o fato de Dilma “aparentar ser amiga e aliada política de Minc” poderia fazer com que ele influenciasse a posição brasileira _os dois atuaram na luta armada contra a ditadura.
Minc não gostou de ser apontado como o homem de confiança dos EUA. “Não tenho nenhuma identidade com os EUA. Tenho posições duríssimas com relação a eles. Defendi posição histórica dos ambientalistas.”
Mais informações sobre os papéis podem ser encontradas no site wikileaks.ch
Telegramas secretos mostram ‘ofensiva diplomática’ dos EUA pela adesão ao ‘Acordo de Copenhague’ mediante promessa de ajuda financeira
Telegramas da diplomacia americana revelados pelo WikiLeaks mostram uma “ofensiva diplomática” secreta sobre o aquecimento global. Segundo os documentos, a operação política internacional buscou angariar apoio do maior número possível de nações através de empréstimos e ajudas financeiras, com o objetivo de cercar a oposição ao controverso Acordo de Copenhague, documento não-oficial que emergiu das ruínas da COP-15 de 2009, na capital dinamarquesa. Reportagem de Damian Carrington, em The Guardian.
No dia 31 de julho de 2009, o Departamento de Estado dos EUA enviou um telegrama secreto a diplomatas das Nações Unidas sobre uma série de temas, incluindo as mudanças climáticas. O pedido foi originário da CIA. Os diplomatas foram questionados sobre o posicionamento de cada nação e requisitados para apresentar evidências do “esvaziamento” do tratado ambiental da ONU, além de pactos entre nações.
Em 19 de junho de 2009, o Departamento de Estado enviou outra mensagem detalhando um ataque cibernético ao gabinete do negociador para mudanças climática dos EUA, Todd Stern, enquanto as negociações sobre as emissões da China eram realizadas em Pequim. Ele e outras pessoas receberam e-mails personalizados, como se viessem do National Journal americano. Um arquivo em anexo continha um código malicioso que daria o controle total do computador do destinatário para um hacker. O ataque não foi bem sucedido, mas o departamento de análise de ameaças cibernéticas da divisão observou: “É provável que tentativas de invasão como essa persistam.”
As negociações de Pequim não conseguiram guiar um acordo global em Copenhague. Os EUA, historicamente os maiores poluidores do mundo, tinham um álibi: o Acordo de Copenhague, martelado nas últimas horas da COP-15 que, apesar de não ter sido adotado oficialmente pela ONU, foi uma alternativa para resolver muitos dos problemas americanos.
O acordo transforma a abordagem da ONU, que antes tendia para a unanimidade. De acordo com ele, cada nação escolhe alvos palatáveis para cortes de gases de efeito estufa, teoricamente uma maneira muito mais fácil de vincular a China e outros países em rápido desenvolvimento à causa do que o processo da ONU. Mas o acordo não pode garantir os cortes necessários de gases-estufa para evitar um aquecimento perigoso, além de embaralhar as negociações da ONU sobre a prorrogação do Protocolo de Kyoto, no qual as nações ricas têm obrigações vinculantes. Estes fatores levaram muitos países – especialmente os mais pobres e vulneráveis – a se oporem com veemência ao acordo.
A “ofensiva diplomática” dos EUA teve seus telegramas secretos enviados entre o final da COP-15 de Copenhague, em dezembro de 2009, até o fim de fevereiro desde ano, e consistiu em garantir o apoio do maior número possível de nações para o Acordo de Copenhague, que serve aos interesses americanos em grande parte.
Alguns países precisaram de pouca insistência. O acordo prometeu US$ 30 bilhões para as nações mais pobres atingidas pelo aquecimento global que não causaram. Duas semanas após Copenhague, o ministro das Relações Exteriores das Maldivas, Ahmed Shaheed, escreveu à secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, requerendo o aporte.
Em 23 de fevereiro de 2010, o embaixador das Maldivas nos EUA, Abdul Ghafoor Mohamed, disse ao deputado americano Jonathan Pershing, enviado para assuntos climáticos, que seu país busca “assistência tangível “, e defendeu que outras nações perceberiam “as vantagens a serem aquiridas pelo respeito” ao acordo.
Uma dança diplomática seguiu. Ghafoor se referiu a vários projetos custando cerca de US$ 50 milhões. Pershing encorajou-o a dar exemplos e custos concretos, a fim de aumentar a probabilidade de assistência bilateral.
As Maldivas são incomuns entre os países em desenvolvimento, ao adotar o acordo em sua totalidade, mas outras pequenas nações insulares foram secretamente vistas como vulneráveis à pressão financeira. Os países mais ameaçados pela mudança climática veem a ajuda como um direito, não uma recompensa. Em 11 de fevereiro, Pershing encontrou a comissária europeia de ação climática, Connie Hedegaard, em Bruxelas. Ela disse a ele, de acordo com um telegrama, que “os países da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (Aosis, na sigla em inglês) poderiam ser nossos melhores aliados”, dada sua necessidade para o financiamento.
Os dois estavam preocupados sobre como os US$ 30 bilhões deveriam ser levantados. Hedegaard questionou se a ajuda dos EUA seria toda em dinheiro. Ela perguntou se os Estados Unidos seriam obrigados a fazer uma “contabilidade criativa”, notando que alguns países, como Japão e Reino Unido, querem garantias de empréstimo, e não doações isoladas – uma tática à qual ela se opôs. Segundo o documento, Pershing dissera que “os doadores têm de equilibrar a necessidade política de conceder financiamento real com as limitações práticas de orçamentos apertados.”
Confiança
Juntamente com financiamento, outro assunto traiçoeiro das negociações climáticas (que estão em curso em Cancún), é a confiança na manutenção dos compromissos assumidos pelos países. Hedegaard se perguntava por que os EUA não concordaram com a China e a Índia em relação a medidas que, para ela, pareciam aceitáveis para monitorar futuros cortes nas emissões. “A questão é se eles (países) vão honrar essa linguagem”, relata o telegrama,citando as palavras de Pershing.
A confiança estava em falta nos dois lados: o das nações desenvolvidas e dos países em desenvolvimento. No dia 2 de fevereiro, um telegrama de Adis Abeba reportou um encontro entre a subsecretária de estado dos EUA, Maria Otero, e o primeiro-ministro da Etiópia, Meles Zenawi, que lidera a União Africana para negociações climáticas. O telegrama confidencial registra uma ameaça, sem cortes, dos EUA a Zenawi: assine o acordo ou a discussão termina agora. Zenawi responde que a Etiópia vai apoiar o acordo, mas ele tem uma preocupação: que o comprometimento pessoal de Barack Obama para o envio da ajuda financeira prometida não seja honrado.
A determinação dos EUA de procurar aliados contra seus adversários mais poderosos – os gigantes em ascensão Brasil, África do Sul, Índia e China (Basic) – está claro em outro telegrama de Bruxelas no dia 17 de fevereiro, desta vez relatando um encontro entre o assessor de segurança naciona, Michael Froman, Hedegaard e outros oficiais da União Europeia.
Froman disse que a União Europeia precisava aprender com os países do Basic as habilidades básicas que estes usaram para impedir as iniciativas da UE e dos EUA, colocando-os um contra o outro, no sentido de “manipular melhor o obstrucionismo do terceiro mundo e evitar futuras colisões de trem nas discussões climáticas.”
Nos telegramas, Hedegaard está interessada em reassegurar a Froman o apoio da UE, revelando uma diferença entre o que é dito publicamente e o que é negociado entre quatro paredes. “Ela esperava que os EUA notassem que a União Europeia estava parando de criticá-los”, dizia o telegrama.
Hedegaard e Froman discutiram a necessidade de “neutralizar, cooptar ou marginalizar países pouco colaborativos, incluindo a Venezuela e a Bolivia”. Hedegaard, novamente, conectou ajuda financeira ao apoio ao acordo, notando “a ironia de que a UE é um grande doador de dinheiro a esses países”. Mais tarde, em abril, os EUA cortaram ajuda à Bolívia e ao Equador, citando a oposição ao acordo.
Qualquer ironia é claramente inócua quando se trata do presidente boliviano, Evo Morales, conforme atesta um telegrama de La Paz datado de 9 de fevereiro. O embaixador dinamarquês na Bolívia, Morten Elkjaer, diz a um diplomata americano que, na reunião de Copenhague, “o primeiro-ministro dinamarquês Rasmussen passou 30 minutos pouco prazerosos com Morales, durante os quais o presidente boliviano o agradeceu pelos US$ 30 milhões por ano em ajuda bilateral, mas recusou-se a se engajar nas questões climáticas.”
Dedo na ferida
Depois do acordo de Copenhague, outros links entre financiamento e apoio político apareceram. Oficiais holandeses, que inicialmente rejeitaram as tentativas americanas de fazer o acordo vingar, fazem uma declaração surpreendente em 25 de janeiro. De acordo com um telegrama, o negociador holandês para o clima, Sanne Kaasjager, “rascunhou menssagens para embaixadas de países auxiliados pelo governo holandês solicitando apoio ao acordo. É um movimento sem precedentes por parte do governo da Holanda, que tradicionalmente recua diante de qualquer sugestão de usar o dinheiro da ajuda financeira como alavanca política.”
Mais tarde, no entanto, Kaasjager volta atrás, ao dizer: “A Holanda acharia algo bem complicado usar o acordo como condição para receber ajuda climática.”
Talvez o mais audacioso apelo por fundos tenha sido revelado por telegramas enviados pela Arábia Saudita, o segundo produtor mundial de petróleoe um dos 25 países mais ricos do mundo. Um telegrama secreto enviado em 12 de fevereiro registra um encontro entre oficiais da embaixada dos EUA e o líder saudita para as negociações climáticas, Mohammad al-Sabban. “O reino precisará de tempo para diversificar sua economia para além do petróleo, mas um compromisso dos EUA para ajudar a Arábia Saudita com os seus esforços de diversificação econômica aliviaria a pressão das negociações sobre mudança climática.”
Os sauditas não gostaram do acordo, mas estavam preocupados em perder “o bonde” da história. O ministro assistente do petróleo, Príncipe Abdulaziz bin Salman, disse aos oficiais americanos que ele havia dito ao ministro Ali al-Naimi que a Arábia Saudita tinha “perdido uma oportunidade real de submeter ‘algo interessante’ à cúpula climática, como fizeram a Índia e a China, algo que não fosse legalmente vinculante mas pudesse significar um aceno de boa vontade por parte do país, sem comprometer os interesses seus econômicos vitais.”
Os telegramas obtidos pelo WikiLeaks terminam no final de fevereiro deste ano. Atualmente, 116 países aderiram ao acordo. Outros 26 dizem que pretendem aderir. Esse total, de 140 países, está dentro da meta de 100 a 150 nações revelada por Pershing em seu encontro com Hedegaard em 11 de fevereiro. Os 140 representam quase 75% dos 193 que participam da Conferência da ONU para o Clima e, como gostam de lembrar aqueles que aderiram ao acordo, são responsáveis por mais de 80% das emissões globais de gases causadores do efeito estufa.
Reportagem [WikiLeaks cables reveal how US manipulated climate accord] do The Guardian, no Estadão.com.br
Fonte: EcoDebate
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