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por Elenita Malta Pereira*
Contador, funcionário público e advogado de profissão; militante político por vocação, Augusto Carneiro nasceu em Porto Alegre, em 31/12/1922. Ao longo desses 90 anos, participou de muitas históricas.
Em 1942, quando navios brasileiros foram afundados pelo Eixo, Carneiro saiu às ruas de Porto Alegre para protestar contra Hitler e Mussolini. Ele só não se alistou para a guerra porque precisava prover o sustento da família, já que sua mãe ficara viúva.
Entrou no Partido Comunista nos anos 40, quando tornou-se livreiro. Viajava de trem pelo interior do Estado distribuindo literatura de esquerda. Como outros correligionários ao redor do mundo, Carneiro deixou o partido em 1956, quando soube das atrocidades cometidas por Stalin.
Foram as crônicas de Henrique Luiz Roessler que trouxeram uma nova perspectiva para sua vida. Publicadas às sextas-feiras, no Correio do Povo Rural, entre 02/1957 e 11/1963, as crônicas de Roessler abordavam as questões ambientais daquele contexto: a caça e pesca ilegal, o desmatamento, a crítica ao progresso, à poluição, etc. Carneiro sempre fala que as crônicas de Roessler o “ecologizaram”. Desiludido com as promessas socialistas, ele assumiu uma nova luta política: a proteção da natureza.
Em 1971, quando Lutzenberger e Carneiro se encontraram, houve afinidade de interesses: ambos eram naturalistas e preocupados com a devastação do ambiente. Reuniram um grupo consciente da situação e fundaram a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN). Grande defensor dos parques, Carneiro trabalhou com Lutzenberger na constituição do Parque da Guarita, do Parque de Itapuã e da Reserva do Lami, entre outros. Mais do que companheiros de luta, tornaram-se grandes amigos.
Carneiro não aparecia tanto quanto Lutzenberger, pois sua atuação se dava nos bastidores. Mas ela era fundamental. Grande parte dos escritos de Lutzenberger só foi publicada graças ao trabalho de arquivo de Carneiro. Ele também promoveu a publicação de uma coletânea das crônicas de Roessler, em 1986. Essa foi a estratégia utilizada por Carneiro para “ecologizar” as pessoas: a publicação e distribuição de livros e panfletos. Quem o conhece sabe que, ainda hoje, não é possível sair de sua casa sem levar algum impresso sobre questões ambientais.
Parabéns pelos 90 anos, Carneiro!
*Elenita Malta Pereira é Historiadora e Doutoranda em História na UFRGS
Ta aí uma medida que deveria ser seguida pelo MP nos municípios. Os mecanismos da chamada compensação ambiental (cuja aplicação nos, do CEA, questionamos) não são objetos da devida publicidade e, não raras vezes, tem sua finalidade desviada, no plano municipal, estadual e federal. Os colegiados ambientais estão apartados desse debate. O TCE deveria dar uma olhada nesses processos, onde há espaço para corrupção, clientelismos e descumprimento da lei ambiental. O Promotor em questão merece não só apoio da AGAPAN, mas também da APEDEMA e de todos que por obrigação legal ou não devem tutelar o ambiente.
Entidade presta solidariedade ao promotor de Justiça de Defesa de Meio Ambiente, Carlos Paganella, no sentido de que sejam restabelecidos os critérios de reposição e plantio de mudas, previstos no Decreto Municipal 15.418/2006, cuja regulamentação observa a devida proporcionalidade definida pelo Código Florestal Estadual.
A Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN) apoia a ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público RS contra a Prefeitura de Porto Alegre, baseada na conclusão de um inquérito civil, onde os valores relativos às compensações ambientais dos empreendimentos, de responsabilidade da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAM), são utilizados na compra de material e de mão de obra terceirizada, baseado no Decreto municipal 17.232/2011.
Ressaltamos que a luta contra a poda indiscriminada e a favor da preservação da arborização urbana teve início nos anos 70, com a AGAPAN, que contou com a sensibilidade do poder público da época, bem como com o total apoio da população de Porto Alegre, que compreendeu a importância dessa nova postura ambiental para a manutenção da qualidade de vida de nossa cidade.
Portanto, não podemos aceitar esse retrocesso ambiental, implementado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Porto Alegre, primeira secretaria de meio ambiente criada no Brasil, fruto também da histórica vanguarda do pensamento ecológico do povo porto-alegrense e gaúcho.
A AGAPAN solidariza-se com o promotor de Justiça de Defesa de Meio Ambiente, Carlos Paganella, no sentido de que sejam restabelecidos os critérios de reposição e plantio de mudas, previstos no Decreto Municipal 15.418/2006, cuja regulamentação observa a devida proporcionalidade definida pelo Código Florestal Estadual.
Atualmente, quando em todo o mundo buscam-se alternativas que venham minimizar os efeitos da ocupação desordenada da área urbana (geradora de crises de toda ordem), a não reposição da arborização suprimida por parte da Secretaria de Meio Ambiente de Porto Alegre demonstra estar, esta Secretaria, na contramão das mais saudáveis práticas ambientais, tais como manter o microclima estabilizado, evitar as inundações, preservar a flora e a fauna, embelezar a paisagem, proporcionar bem-estar à população, em suma, conservar o equilíbrio necessário entre o ser humano e o espaço geográfico em que habita.
Atenciosamente,
Francisco Milanez
Presidente da AGAPAN

Livia Zimmermann apresenta o livro escrito para contar a pioneira luta ecológica de sua mãe, Hilda, que ajudou e ajuda a construir o Movimento Ecológico Gaúcho. Foto Cíntia Barenho/CEA
Ações que mudaram e que precisam seguir mudando a história
por Cíntia Barenho
O Livro “Ações que mudaram – A saga de Hilda E. Wrasse Zimmermann & sua agenda socioambiental”, escrito por Lívia Zimmermann, é um relato emocionante e essencial sobre o pioneirismo de sua mãe, Hilda Zimmermann*, na luta do Movimento Ecológico Gaúcho.
O livro narra diferentes episódios vividos e protagonizados por Hilda ao longo de sua vida de 1967 até 2011. O livro divide-se em Sustentabilidade, Naturismo, Ecologia, Cultura, Questão Social, Questão Indígena, temas do dia a dia de luta desta pioneira da ecologia gaúcha, consequentemente brasileira. Além do destaque aos diversos prêmios recebidos durante sua vida,
O lançamento no Rio Grande do Sul foi promovido pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, dia 29/08 no Solar dos Câmara.
Lugar mais que emblemático uma vez que em 1978, alguém resolveu facilitar o acesso aos parlamentares gaúchos construindo um edifício-garagem de 12 andares, para abrigar carros. Ou seja, da “ditadura” do uso de carros não é uma coisa só de hoje. Diante disso, Hilda e demais ecologistas, especialmente Magda Renner e Giselda Castro, se engajaram na luta para preservar não só seu jardim e suas árvores tombadas (por decreto municipal), mas também o próprio Solar.
As ecologistas atuaram diretamente na Assembleia, fazendo lobby junto aos parlamentares, sugerindo o Solar tornar-se biblioteca e museu. Denunciaram a situação junto ao secretário de meio ambiente da época que prontamente declarou a proibição da obra. Artigos de imprensa foram escritos denunciando o fato à sociedade.
Diante de tal envolvimento essas mulheres foram taxadas de “Bruxas da Ecologia”, por um representante do povo (ou não), parlamentar favorável a degradação ecológica.
Claro que as ecologistas não deixaram isso barato e quando encontraram tal parlamentar, nos corredores da Assembleia trataram de se apresentar para o tipo.
O final da história, pode-se dizer que foi “feliz”, uma vez que o projeto foi arquivado e o Solar dos Câmara hoje é patrimônio Histórico, transformou-se em centro cultural e biblioteca da Assembleia Legislativa. Além de que se mantem com um refúgio consideravelmente arborizado. Ah! E o tal parlamentar depois resolveu se retratar, chamando-as de “cassandras da ecologia”.

Após a distribuição gratuita dos livros, os mesmos foram autografados por Lívia a sombra das árvores do Solar dos Câmara, defendidas por sua mãe e outras ecologistas gaúchas. Foto Cíntia Barenho/CEA
No entanto, como as ações precisam seguir acontecendo e mudando a história, ironicamente, após a sessão de autógrafos, um assessor de bancada parlamentar, declarava aos que passavam próximos dali que se tivesse uma motoserra faria uma excelente lenha com aquelas árvores.
E assim que se faz a luta ecológica, todo o dia sem parar ou esmorecer, inspirando-se no pioneirismo das nossas (os) ecologistas já que a eminência do antropocentrismo utilitarista da natureza segue em todos os espaços.
*Hilda Zimmermann : Natural de Santa Rosa, Hilda foi uma das pioneiras do movimento ecológico gaúcho. Fundadora da Agapan, da Ação Democrática Feminina Gaúcha e da Associação Nacional de Apoio ao Índio, tem no seu currículo uma infinidade de campanhas e lutas pela natureza. Destacam-se a defesa dos índios, a Operação Hermenegildo (Maré Vermelha), defesa de árvores e parques, como o Parcão de Porto Alegre, a luta contra os agrotóxicos, contra a poluição e contaminação da Borregard (Riocel), pela preservação das Ilhas do Delta do Jacuí. Herdou o gosto pela ecologia do pai, Gustavo Wrasse, um defensor dos índios. Os indígenas acabaram se tornando objeto de 40 anos de trabalho de Hilda. Também destaca-se sua parceria com Juarez Romano Zimmermann, seu marido, para a fundamentação filosófica do debate ambiental. Hilda faleceu em maio de 2012.
No dia 05 de novembro de 2011, em Porto Alegre, ocorreu a 59ª Assembleia Geral Ordinária (AGO) da APEDEMA/RS, a qual reuniu organizações ecológicas não governamentais (ONGs) de todo RS, quando foram tratados temas atinentes à política ambiental e organizacional do Movimento Ambientalista Gaúcho, a APEDEMA também elegeu sua nova Coordenação Executiva biênio 2011-2013.
Na ocasião, a Coordenação eleita foi o Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais(INGA), União pela Vida (UPV) e Associação São Borjense de Proteção ao Meio Ambiente (ASPAN), tendo como desafio levar adiante ações e lutas em andamento, organizar o 29º EEEE em 2012, bem como, acompanhar a Rio + 20. Após sete meses de atuação, a ASPAN, em carta dirigida às ONGS da APEDEMA/RS, solicitou sua retirada da Coordenação. Sendo que a Entidade tem sede em São Borja, sua atuação frente as demandas na capital do Estado, bem como, de organização geral do coletivo se inviabilizaram.
Assim, nessa última terça-feira, 29/05/2012, na sede do INGÁ, em reunião ordinária, houve a substituição da ASPAN/SB pela AGAPAN/POA. Marcelo Pretto Mosmann, da UPV, valorizou o empenho e o trabalho da ASPAN, especialmente no Blog, que tem sido alimentado pela representante da ONG: Ana Carolina Martins da Silva e pelo Jornalista João Batista Santafé, do NAT.
Paulo Brack, do INGÁ, reafirmou a luta incansável e totalmente desinteressada que a ASPAN teve a frente de muitas decisões da Coordenação, em prol da APEDEMA/RS. No dia 29, quando foram relatados casos similares em que outras entidades tiveram de deixar a coordenação, os presentes manifestaram voto de louvor ao trabalho desenvolvido pela ambientalista Ana Carolina da ASPAN, que seguirá administrando o blog, juntamente com o jornalista João Batista Santafé (NAT) até haver substituição.
Disse Ana Carolina: Fiz todos os Movimentos possíveis para representar bem a ASPAN e congregar as ONGs da APEDEMA/RS junto aos seus objetivos e metas: tenho dado manutenção ao Blog junto com o jornalista João Batista Santafé Aguiar do NAT; tenho tentado articular todas as ONGs do Estado; tenho tentado manter as correspondências da Secretaria Executiva em dia; organizei e sistematizei uma Proposta de Plano de Ação para o ano inteiro a partir dos debates na 59 Assembleia em conjunto com o INGÁ e UPV; cuidei do envio por carta e por e-mail. Agendei reuniões, nas quais participei, cuidando para que circulassem os relatos; tenho ajudado a construir documentos importantes e demais funções características da Coordenação. Agora, em função de minha vida profissional, não tenho mais condições de me manter na Coordenação.
O Conselho Superior da ASPAN, através da pessoa de Darci Bergmann, também se manifestou a respeito: “A ASPAN, no momento, não dispõe de outra pessoa para substituir a Ana Carolina, por isso ficou decidido que não haverá mais a participação da nossa entidade nessa equipe”. Para Bergmann, a participação da ASPAN teve saldo altamente positivo devido à transparência e a visibilidade que a APEDEMA passou a desenvolver.
Diante da vacância do cargo, foi aclamada a indicação da AGAPAN, por meio da Edi Fonseca, para complementar o mandato. A APEDEMA-RS congrega desde sua fundação no início dos anos 90, em Novo Hamburgo-RS, ONGs de todo o Estado e, das ONGs ambientalistas/ecologistas mais antigas e atuantes no RS, a Associação Gaúcha de Proteção do Ambiente Natural (AGAPAN), que completou 41 anos esse ano, é uma das mais inspiradoras para a fundação de outras ONGs no RS, inclusive a ASPAN.
Em relação à substituição na Coordenação, a ASPAN sente-se honrada com a presença da ambientalista Edi Fonseca devido ao seu histórico profissional como professora, como ambientalista, como pessoa, e ao seu conhecimento adquirido participando de diversos Conselhos Representativos, tanto em nome da AGAPAN, quanto em nome da APEDEMA/RS. “Historicamente, a AGAPAN já esteve à frente do Movimento diversas vezes, a sua posição na Coordenação atualmente, é absolutamente justa e coerente”, disse Ana Carolina.
Além desse tema, na reunião do dia 29/5/2012 foram tratados: Encaminhamentos do Documento “Transição Ecológica Necessária”, que será distribuído na Rio+20 com a posição da APEDEMA/RS; CDES (candidatos e processo decisório para o encaminhamento de nomes); Consema e as ONGs indicadas pela APEDEMA/RS (A quinta vaga é nossa) e a Reunião com o Governador Tarso Genro (PT).
Entrevista especial com Francisco Milanez
“Para manter esta orgia de crescimento econômico e exportação, aprovam um Código que autoriza aumentar a área plantada”, declara o ambientalista.
A aprovação do Código Florestal no Senado na noite de terça-feira representa “perdas para uma lei que é essencial para a manutenção da saúde econômica do país”, avalia Francisco Milanez, em entrevista concedida por telefone à IHU On-Line. Aprovada por 59 votos a favor e sete contra, a reforma do Código Florestal não considerou os efeitos das mudanças climáticas no meio ambiente. De acordo com ele, “nesta conjuntura, o Brasil deveria estar aumentando as suas proteções às florestas. Estamos vendo o Brasil andando contra a corrente e reduzindo as suas proteções naturais, as proteções de nascentes, das matas ciliares”.
Na avaliação do ambientalista, as alterações na legislação causarão impactos ambientais e agrícolas. “O assoreamento provocado pelas chuvas e enchentes vai arrancar as plantações. Hoje os rios estão cada vez mais rasos por causa da agricultura, e agora, cada vez que tiver uma chuva menos intensa, teremos perda de safra e lavoura. Teremos seca, porque as nascentes serão destruídas, diminuirá a retenção de umidade no ar que é fruto da evapotranspiração, pois este processo é fortemente produzido pelas florestas”, esclarece.
Para Milanez, a medida parlamentar, que propõe restauração de áreas degradadas em vez do pagamento de multas, será ineficiente. Ele explica: “Os desmatadores serão anistiados e vão fingir que estão recuperando as áreas degradadas. Vão plantar culturas exóticas e dizer que isso é recuperação florestal. Desde quando eucalipto é recuperador da natureza?”
Francisco Milanez é educador ambiental, arquiteto, biólogo e membro da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – Agapan e da Fundação para o Desenvolvimento Ecologicamente Sustentado – Ecofund.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como o senhor avalia a aprovação do novo texto do Código Florestal no Senado?
Francisco Milanez – A aprovação deste texto é uma tristeza porque estamos diante de uma crise mundial acelerada. A mudança climática é uma realidade, está começando causar prejuízos profundos para o planeta, e até os conservadores já não negam a desorganização climática e a aceleração com que ela está acontecendo. Nesta conjuntura, o Brasil deveria estar aumentando as suas proteções às florestas. Estamos vendo o Brasil andando contra a corrente e reduzindo as suas proteções naturais, as proteções de nascentes, das matas ciliares.
IHU On-Line – Quais são, em sua avaliação, os principais equívocos e acertos do novo texto? O que mudou em relação à proposta inicial de Aldo Rebelo?
Francisco Milanez – O texto melhorou, mas a base é a mesma. Nenhum país no mundo poderá ser chamado de sério quando pratica crimes e depois utiliza o poder econômico para descriminalizá-los. Uma sociedade que decide que determinado comportamento deve ser considerado um crime e depois modifica a lei para autorizar este crime dá péssimos exemplos para as futuras gerações.
Implicações ambientais
Com a aprovação deste texto, em poucos anos não haverá mais água para a agricultura e a produção agrícola não irá sobreviver às secas e enchentes frequentes. O assoreamento provocado pela agricultura provocará enchentes e irá destruir as plantações. Hoje os rios estão cada vez mais rasos por causa da agricultura, e agora, cada vez que tiver uma chuva menos intensa, teremos perda de safra e lavoura. Teremos seca, porque as nascentes serão destruídas, aumentará a retenção de umidade no ar que faz toda a evapotranspiração, pois este processo é fortemente controlado pelas florestas. A Amazônia, por exemplo, controla as chuvas no Sul e na América toda através do sistema de controle térmico e de umidade. O que dizer desta seca terrível em Porto Alegre?
Os parlamentares utilizaram do seu poder de forma troglodita para andar contra a história. Com a aprovação deste texto, os centros urbanos sofrerão em função da comida mais cara, enquanto que os políticos continuarão escravizados pelas empresas que eles obedecem de cabeça baixa. A agricultura é controlada por esquemas internacionais e esses “vassalos”, ao mudarem a lei, estão prejudicando a própria produção.
O que aconteceu é uma loucura, é difícil falar sobre isto. Desculpe a minha aparente agressividade, mas eu ainda tenho emoções. É muito difícil entender um país camicase. Como um Congresso Nacional aprova um código como este? Quem votou a favor ou é um boçal, ou é corrupto. Uma pessoa com dois neurônios funcionais não pode dizer que este Código será bom para a agricultura. Falam que para alimentar o mundo temos que aumentar a área plantada. Isso é uma estupidez. Mas por que não falam mais de produtividade, como falavam anos atrás? Porque a tecnologia da revolução verde, juntamente com a transgenia, tem diminuído a produtividade. Então, para manter esta orgia de crescimento econômico e exportação, aprovam um Código que autoriza aumentar a área plantada.
Estamos desqualificando a alimentação, utilizando mais agrotóxicos. A própria Organização Mundial de Saúde – OMS aumentou a tolerância para agrotóxicos em seres humanos, e agora os agrotóxicos “passaram a fazer menos mal”, porque aceitamos mais agrotóxico na comida, e, obviamente, os transgênicos são feitos para isso. Tudo é uma piada. Estamos piorando a nossa alimentação, diminuindo a produtividade e destruindo mais florestas e contaminando a água, que ainda são as únicas coisas saudáveis que temos para compensar tanta destruição. Nós vamos ficar sem água. O Rio Grande do Sul é talvez a segunda região mais rica em água no Brasil e duas bacias hidrográficas já estão sem água: a do Santa Maria e a do litoral norte.
IHU On-Line – A decisão de anistiar as multas, caso os proprietários de terras recuperem as áreas, é uma decisão ambígua?
Francisco Milanez – Não acredito nesta medida. Os desmatadores serão anistiados e vão fingir que estão recuperando as áreas degradadas. Vão plantar culturas exóticas e dizer que isso é recuperação florestal. Desde quando eucalipto é recuperador da natureza?
Eu sempre fui favorável a medidas que não prejudicassem os produtores; mas, para isso, é preciso dialogar com eles. Nossa finalidade não é punir ninguém, mas proteger a natureza. A ideia de as pessoas recuperarem as áreas florestais, em lugar de pagarem multas, não é ruim. Mas não é preciso criar uma lei. A autoridade administrativa tem que ter o poder de intimar as pessoas a recuperarem as áreas degradadas. Quando há a necessidade de criar uma lei para recuperar tais áreas, com certeza existe alguma “coisa mal explicada” por trás.
IHU On-Line – Então o senhor concorda que o novo texto deixa brechas para intensificar o desmatamento?
Francisco Milanez – Caso aprovado, o novo Código Florestal irá aumentar, autorizar e regularizar o desmatamento. Essa é uma lei da produção agrícola e não tem nada a ver com o Código Florestal.
Se o momento que vivemos hoje é de crise por causa da falta de florestas, por falta de água, deveríamos criar uma lei mais exigente que garantisse a produção de mais reservas legais, ou, na pior das hipóteses, manter as reservas que já temos, em vez de diminuí-las. O Brasil está desrespeitando todos os tratados internacionais de biodiversidade, mudanças climáticas, que o país assinou. Isso é estelionato. Não tem outro nome.
IHU On-Line – Entre as propostas do novo texto está a de que os proprietários de terras de 20 a 400 hectares não precisem recuperar a reserva legal. Quais as implicações dessa medida e da não proteção de reservas legais?
Francisco Milanez – Essa medida é a legalização do crime. Além de os desmatadores não terem de pagar a multa, não precisarão recuperar as áreas desmatadas ou preservar as reservas legais.
Recentemente, um parlamentar disse que o Brasil não tinha dinheiro para recuperar as áreas degradadas, porque isso custaria o dobro do Produto Interno Bruto – PIB. Isso é ridículo. Recuperar áreas degradadas é a coisa mais barata que existe. Além disto não é o governo que tem que recuperar as áreas e sim quem degradou. 80% das propriedades do país têm de 20 a 400 hectares. Portanto, esse é o percentual de proprietários é quase todos os agricultores.
Poderia haver um conselho que, em raríssimas exceções, autoriza-se a produção em áreas que deveriam ser preservadas. Têm milhares de propriedades que, ambientalmente, não estão em condições de produzir e agora os proprietários querem desmatá-las para investir em produção. Mudar a lei depois que os crimes foram feitos é uma loucura. Por que determinaram de 20 a 400 hectares? É uma decisão estúpida.
IHU On-Line – O Código Florestal vigente deveria ser alterado?
Francisco Milanez – Toda lei pode melhorar, mas, antes, ela precisa ser cumprida. O Código Florestal vigente não é cumprido. As mudanças propostas no novo Código não têm uma explicação séria. Da mesma maneira que não existe uma explicação séria para um país se ajoelhar diante de seis multinacionais e aceitar o patenteamento da vida, como aceitamos há alguns anos atrás, no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. É por isso que hoje o Brasil paga um monte de royalties a troco de nada por causa da soja que a Embrapa “fez o favor” de cruzar com a soja RR patenteada. Isso não tem explicação. Existe muita corrupção, falsos cientistas e muita sujeira a ser levantada por trás dessas instituições de interesse, que cada vez mais governam o mundo.
IHU On-Line – Qual sua expectativa em relação à decisão da presidente Dilma?
Francisco Milanez – Eu quero ver se a presidente tem palavra. Acreditei quando ela disse que vetaria o texto caso ele fosse aprovado. Estou apostando que ela irá cumprir o que disse.
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Francisco Milanez – Uma questão importante é que não existe nenhuma lei superior ao Código Florestal em termos de preservar a qualidade de vida e a produção agrícola. Daqui a cinco anos, quero ser crucificado ou ver os congressistas que aprovaram essa lei crucificados. Quero que a população não esqueça o nome desses congressistas que aprovaram o texto do Código Florestal, que a carreira política deles acabe ou que eu seja difamado por ter dito o óbvio. Alguém tem que ser responsabilizado neste país caso esse Código seja aprovado. Não é possível que tenhamos de pagar mais tarde por essa decisão irresponsável. Os congressistas que votaram favoravelmente ao texto devem ser responsabilizados pela destruição agrícola, pela fome, pela desgraça dos agricultores. É triste acabar um ano assim. Vejo perdas para uma lei que é essencial para a manutenção da saúde econômica do país.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Alfabetização Ecológica é tema de debate e título do livro de Francisco Milanez, presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), que acontece na segunda-feira, dia 14, durante a 57ª Feira do Livro de Porto Alegre.
O debate será na sala dos Jacarandás, no Memorial do RS, às 17h30, com a presença do escritor Carlos Urbim e da geógrafa, ex-presidente e conselheira da Agapan, Edi Fonseca. O livro “ECOALFABETIZAÇÃO: manual de sobrevivência em um planeta em extinção”, será lançado na Praça dos autógrafos, às 19h30.
Durante os quase 40 anos de militância, Milanez acumulou experiência, demonstrada em seus artigos, sobre as diversas questões ambientais, como agrotóxicos, consumo, teoria de Gaia, desenvolvimento sustentável, reciclagem, situação dos animais nos zoológicos, energia nuclear, clima, arborização, alimentação, cultura indígena. “É um livro para jovens”, diz, ao enumerar em torno de 57 artigos nessa obra, “que estarão disponíveis para os professores utilizarem em aula para consulta e debate”.
“A única forma para termos qualidade de vida, dada as condições caóticas vividas no Planeta, é construir alternativas através de opções conscientes”, afirma Milanez, que é enfático ao defender que, “fazendo as escolhas certas, ainda dá pra se viver muito bem. Para isto temos que saber quais são os desafios. Por isso um manual de sobrevivência”.
Francisco Milanez milita desde o 1º grau do colégio no movimento ambientalista. É biólogo, arquiteto, terapeuta e, pela quarta vez, preside a Agapan, a mais velha ONG ambientalista do Brasil e da América Latina, fundada em 27 de abril de 1971 é filiada a Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente do RS (APEDeMA/RS). O lançamento do livro integra as comemorações dos 40 anos da Agapan.
Informações: Assessoria de Imprensa da Agapan,Jornalista Adriane Bertoglio Rodrigues
O CEA estava lá acompanhando a atividade e apoia o lançamento regional do Comitê, em Pelotas/RS.
Foi lançada a Campanha Permanente Contra o Uso de Agrotóxicos e Pela Vida no RS, que reúne diversas organizações e entidades. A cerimônia aconteceu na sede da Emater/RS-Ascar, na noite desta segunda-feira (24).
Com o auditório lotado, mais de 100 pessoas assistiram ao filme O Veneno Está na Mesa, dirigido por Sílvio Tendler, acompanharam a palestra da bióloga e socióloga Magda Zanoni,e debateram projetos e ações desenvolvidas no Estado. A abertura do lançamento foi prestigiada pelo delegado da Superintendência Regional do MDA, Nilton Pinho De Bem entre outras representações de movimentos sociais e ambientais/ecológicos, como o Centro de Estudos Ambientais (CEA) e a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN). Também participaram integrantes da Associação Nacional de Pequenos Agricultores de Cuba, que fazem intercâmbio no RS.
Representando o governador Tarso Genro, o diretor técnico da Emater/RS, Gervásio Paulus, salientou a importância da Campanha. “É preciso desafiar o poder público em todos os níveis, até porque os governos têm um papel estratégico, que possibilita promover o avanço e o acúmulo de conhecimentos”, defendeu Paulus, ao citar eventos como o realizado nesta terça-feira (25) em Ijuí, sobre transição de sistemas de produção de grãos, e, na quarta-feira (26), em Taquara, sobre sistemas agroflorestais. “Através de momentos como este e de eventos que provoquem o despertar da consciência de técnicos, agricultores e consumidores, é que poderemos garantir qualidade de vida para todos”, destacou o diretor. Ele finalizou com uma frase de José Lutzenberguer, que atenta para a importância de se manter ações sustentáveis. “Não podemos considerar como progresso o que não somo para a facilidade humana”.
O vídeo mostra depoimentos de agricultores que optaram por não usar agrotóxicos. Do RS, tem agricultores de Caiçara, Paraíso do Sul, Agudo, Boa Vista das Missões e Iraí, na comunidade Sanga dos Índios, que desafiam as transnacionais químicas e se contrapõem ao modelo da chamada Revolução Verde. O site EcoAgência também é mencionado.
ALERTAS PARA A SAÚDE
De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), os hortigranjeiros preocupam, pois recebem altas doses de agrotóxicos, muitas vezes proibidos, e são consumidos in natura. Os alimentos mais contaminados são beterraba (33% de contaminação), alface (38%), mamão (39%), abacaxi e couve (44%), morango (51%), pepinos (55%), uva (56%) e pimentão (80%). Nos 10 anos, entre 1998 e 2008, a venda de agrotóxicos aumentou 140%. ?Não é à toa que são 5,2litros por pessoa/ano?, informa o vídeo, que será disseminado pelos participantes.
Outro fator que favorece o crescente consumo de agrotóxicos é o estímulo fiscal oferecido pelos governos, que dá descontos de 60 a 100% para as empresas químicas. “Faltam financiamento e políticas públicas para os pequenos agricultores, para que eles aumentem e diversifiquem a produção, provocando a baixa no preço dos orgânicos”, critica Dario Milanez, da Via Campesina. Ele questiona a expansão de monocultivos, como a soja, “que ocupa mais da metade da terra agricultável no Brasil. A expansão da soja, a transgenia e o aumento do uso de agrotóxicos é suficiente para trazer ainda mais riscos para a saúde das pessoas e para a contaminação do ambiente”.
O chefe de Gabinete da Emater/RS, Jaime Weber, afirma o compromisso da Instituição em mudar essa realidade, e diz lamentar erros médicos em diagnósticos de contaminação, prescrevendo serem casos de leptospirose. “Isso ocorre na região do fumo”. Para Jaime, “cada vez mais precisamos buscar informações e disputar por um modelo mais saudável”. Para isso, ele sugere repensar a militância, pressionar os governos e construir alianças estratégicas com os municípios. “Precisamos debater com conteúdo e informação”.
O pioneirismo do RS na promulgação da Lei Estadual Contra os Agrotóxicos, na década de 80, foi destacado pelo presidente da Agapan, Francisco Milanez, ao criticar a lei nacional como “uma cópia mal feita”. Ele defende o repasse dos royalties dos transgênicos para resolver o “conclamado problema da fome no mundo”.
Programas de crédito de incentivo à produção orgânica no RS devem ser anunciados em breve pelo Banrisul. A informação é da representante da instituição, Simone Azambuja, ao citar o Rio Grande Ecológico, que será recriado para custear a compra de sementes crioulas e para investimentos na agroecologia.
Atualmente, o Comitê Estadual Contra o Uso de Agrotóxicos e Pela Vida integra 30 entidades, “mas outras estão convidadas a participar”, salienta um dos coordenadores, o estudante Edmundo Oderich. A próxima reunião do comitê será na segunda-feira (31), às 18h30, na sede da PGDR (Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural), ao lado do DCE da Ufrgs, em Porto Alegre.
Ao final do debate, foi anunciada a realização do XII Seminário Estadual sobre Agroecologia XI Seminário Internacional sobre Agroecologia, de 28 a 30 de novembro, no auditório Dante Barone, na Assembleia Legislativa do RS, que tem como tema “Um outro olhar para o desenvolvimento”. Também foi citada a realização, em Pelotas, do lançamento regional da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, no dia 23 de novembro, na Faculdade Agrícola São Maciel.
Informações
Assessoria de Imprensa da Presidência da Emater/RS-Ascar
Jornalista Adriane Bertoglio Rodrigues
Fonte: AGAPAN
Imperdível. O programa Cidadania Ambiental com a entrevista de Flávio Lewgoy, 85 anos, um dos ecologistas atuantes mais antigos no RS e no Brasil, foi transmitido originalmente em 31/5/2011 e merece ser ouvido.
Lewgoy, engenheiro químico, professor, pesquisador, especialista em genética, relata fatos da história do ecologismo no RS, bem como a construção da lei gaúcha dos agrotóxicos, seu relacionamento com José Lutzenberger e como entrou para a ONG Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), da qual foi presidente.
A entrevista inédita concedida ao jornalista João Batista Aguiar faz parte da série que está sendo apresentada para rememorar e comemorar os 40 anos da Agapan.
Ouça o programa na íntegra.
Hoje, 13 de julho, quarta-feira, a União Protetora do Ambiente Natural (UPAN)comemora 40 anos de sua fundação.
Inicialmente denominada de AGAPAN – Núcleo Leopoldense, nesse momento festivo a UPAN pretende fortalecer seu compromisso com a preservação ambiental e com a justiça social, com a a posse da nova diretoria.
“São 40 anos de ambientalismo e dedicação de diversas pessoas que fazem o movimento UPAN. As circunstâncias mudaram, a sociedade evoluiu, as leis avançaram, porém os problemas não desapareceram: mutaram. A UPAN precisa se reinventar para continuar cumprindo sua missão nesse mundo novo”, afirma Manuel Christoph Strauch, do Conselho Diretor da ONG.
A comemoração será realizada no Barco Martim Pescador, hoje, às 19 horas, em São Leopoldo/RS.
Aguardamos a sua presença!
A UPAN é filiada a Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente do RS (APEDeMA/RS).
Veja mais em: http://www.upan.org.br
Encerra hoje (30 de junho) a exposição denominada História do Ambientalismo Gaúcho, no Memorial da Câmara Municipal de Porto Alegre , que homenageia a passagem do Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de Junho).
A mostra é inspirada no livro Pioneiros da Ecologia, de Elmar Bones e Geraldo Hasse (Já Editores) e reúne 16 banners que abordam aspectos do movimento em defesa da natureza no Rio Grande do Sul.
A exposição aponta as contribuições de Luis Roessler e de Padre Balduíno Rambo até a emergência da geração de militantes formada por José Lutzenberger, Augusto Carneiro, Caio Lustosa, Flávio Lewgoy e Sebastião Pinheiro. Também valoriza o trabalho das mulheres ao movimento ecológico, citando as pioneiras Hilda Zimmermann, Giselda Castro e Magda Renner, além do papel da imprensa local nas lutas pela preservação da natureza.
“As mulheres foram intelectuais de destaque no movimento, escrevendo notáveis textos em defesa da ecologia”, afirma o coordenador do Memorial da Câmara, Jorge Barcellos. “A imprensa gaúcha tomou uma posição na luta ambientalista porque colaborou na divulgação, através de inúmeros artigos de seus militantes e de pautas ambientalistas.”
Os painéis não deixam de fora grandes lutas dos ecologistas gaúchos, como o combate ao uso dos agrotóxicos e pela constituição de políticas voltadas para o meio ambiente no Estado, notadamente no município de Porto Alegre.
O pionerismo de luta ecológica da América Latina foi protagonizado pela União Propetora da Natureza (UPN) e pela Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN), foi fundada por gaúchos.
Entrada franca, encerra as 16 horas. Informações: (51) 3220-4187.
Fonte: www.agapan.org.br e http://roessler.org.br.
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