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ATUALIZADO COM AS CHARGES/CARTUNS
por Cíntia Barenho
O papo aconteceu ontem, 28/11, com intuito de fornecer os fatos básicos sobre assuntos que estão na ordem do dia de quem faz charge, cartum, caricatura e HQ. Segundo os organizadores: “Quem acompanha o humor gráfico publicado no país observa que muitos chargistas e cartunistas simplesmente tratam de certos temas e personagens sem conhecê-los, com resultados medíocres ou equivocados, desinformando e surpreendendo (negativamente) os leitores. Têm opinião, o que é legítimo, mas não têm conhecimento, o que é desastroso.
Nesse sentido, a Grafar – Grafistas Associados do Rio Grande do Sul – que já tem 25 anos organização, procura colaborar na formação dos artistas gráficos.
O primeiro papo proposto, tratou da questão dos TRANSGÊNICOS, com grafariano VECENTE, profissional do ramo da agronomia e cartunista, mediando o papo.
Transgênicos: “Você Sabe do Quê Está Falando?”
Desde o final dos anos 70 estuda-se os transgênicos (Organismos Geneticamente Modificados-OGM). Nos anos 80, nos EUA, já haviam plantas transgênicas. Já em 1994 houve a primeira liberação comercial de transgênicos, com o tomate.
No RS o início dos transgênicos se dá por 1997, com a entrada da soja transgênica pela Argentina, conhecida por soja maradona. Mesmo entrando ilegalmente no país e mesmo com toda a luta das entidades ecologistas, em 2005 o governo sancionou a lei de biossegurança, legalizando o que era ilegal até então.
Hoje estima-se que 99% das lavouras de soja no RS sejam transgênicas. Ou seja, já são 4 milhões de hectares de transgênicos. Já no Brasil a conta é de 82%. Além disso, o custo de royalties, para cada lavoura, é 3% para as empresas multinacionais. Mesmo sabendo que a tecnologia tem “dono” há uma batalha judicial para não pagamento dos royalties.
Os trabalhos gráficos selecionados mostram mensagens equivocadas sobre os transgênicos, de defesa do uso dos transgênicos, que ironizam os efeitos colaterais. Tratam muitas vezes como um “mito do Frankenstein”, no qual problematizam o poder da ciência e o receio das consequências de tal poder.
Infelizmente muitas das charges tratam de forma ambígua e equivocado o assunto dos transgênicos. Muitas vezes reforçando o mito que os transgênicos iriam resolver o problema da fome e da miséria.
Poucos problematizam a hipocrisia da indústria agrícola, que “vendeu” a ideia de que os transgênicos resolveriam o problema da fome mundial e do uso dos agrotóxicos. A indústria dos transgênicos nunca buscou mudar o modelo de produção e exploração agrícola. Os transgênicos vieram para manter o modelo de produção, contribuir para a extração da mais valia capitalista neo-liberal, trazendo maior endividamentos aos produtores rurais e uma maior dependência aos pacotes tecnológicos vendidos por empresas multinacionais, e, infelizmente incentivados pelo poder público, pela assistência técnica, pelas universidades. E mais, trouxe um maior e intenso uso dos agrotóxicos, agora desenvolvidos especialmente para cada tipo de semente transgênica.
Assim, reforçam um modelo de produção e consumo conveniente não para a saúde ou para a preservação/conservação ambiental, mas sim conveniente ao enriquecimento ilícito de meia dúzia de empresas transnacionais transgênicas.
Ciclo de palestras ilustradas da Grafar
Bar Tutti Giorni
Transgênicos (história, evolução, controvérsias).
Expositor: Vecente
Organização: Guilherme Moojen e Edgar Vasques
Procure pelo “T”amarelo nas embalagens do que você come, dá para seus filhos ou para seus animais de estimação.
Marco Maia e ruralistas podem votar fim da rotulagem de transgênicos
A proposta que acaba com a rotulagem é de autoria do deputado ruralista Luiz Carlos Heinze (PP/RS) e foi colocada na ordem do dia de votação na Câmara pelo presidente Marco Maia (PT/RS)
Manobra levou o projeto direto a votação em plenário, pulando análise das comissões
O que diz o PL 4148/08?
A proposta elimina a informação no rótulo se não for detectável a presença do transgênico no produto final – o que exclui a maioria dos alimentos (como óleos, bolachas, margarinas, enlatados, papinhas de bebê etc); (2) não obriga a rotulagem dos alimentos de origem animal alimentados com ração transgênica; (3) exclui o símbolo T que hoje facilita a identificação da origem transgênica do alimento (como tem se observado nos óleos de soja); e (4) não obriga a informação quanto à espécie doadora do gene.
Resumo dos principais argumentos contra o PL:
1) Fere o direito à escolha e à informação assegurados pelo Código de Defesa do Consumidor, nos artigos 6º, II e III e 31 e desrespeita a vontade dos cidadãos que já declararam que querem saber se um alimento contém ou não ingrediente transgênico (74% da população – IBOPE, 2001; 71% – IBOPE, 2002; 74% – IBOPE, 2003; e 70,6% – ISER, 2005).
2) Representa um retrocesso ao direito garantido pelo Decreto Presidencial 4.680/03 (Decreto de Rotulagem de Transgênicos) que impõe a rastreabilidade da cadeia de produção como meio de garantir a informação e a qualidade do produto (vale lembrar que a identificação da transgenia já é feita para a cobrança de royalties).
3) Impedir a informação da característica não geneticamente modificada do produto é um desrespeito ao direito dos consumidores, dos agricultores e das empresas alimentícias que optam por produzir alimentos isentos de ingredientes transgênicos e tem como única finalidade favorecer a produção de transgênicos.
4) A rotulagem de transgênicos é medida de saúde pública relevante ao permitir o monitoramento pós-introdução no mercado e pesquisas sobre os impactos na saúde.
5) Pode impactar fortemente as exportações, na medida em que é grande a rejeição às espécies transgênicas em vários países que importam alimentos do Brasil.
6) Descumpre compromissos internacionais assumidos no âmbito do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, Acordo Internacional ratificado por 150 países, do qual o Brasil é signatário. De acordo com o Protocolo, os países membros devem assegurar a identificação de organismos vivos modificados nas importações/exportações, destinados à alimentação humana e animal (artigo 18. 2. a).
7) Por fim, o Projeto de Lei em questão contraria manifestação da sociedade civil brasileira que recomendou1 ao Governo Brasileiro que durante a reunião da 6ª MOP-COP, em Hyderabad, Índia, (outubro de 2012) se posicionasse de acordo com a recomendação do Secretariado Execu-tivo do Protocolo de Cartagena, nos moldes do informe UNEP/CBD/BS/COPMOP/6/9, a favor da utilização de tecnologias e segregação e rastreabilidade, já implementadas em países desenvolvidos, a fim de facilitar a identificação dos OGMs;
Fonte: Em pratos Limpos
Estudo comprovou maior incidência de câncer e morte em ratos alimentados com transgênicos; produto amplamente utilizado no Brasil foi liberado em 2008, com base em estudos de curto prazo
O Idec assinou junto a outras entidades um ofício de urgência pedindo a suspensão da liberação comercial do milho trangênico NK603 no Brasil após a publicação do primeiro estudo de longo prazo sobre os efeitos do produto no organismo.
Confira a íntegra do documento.
Realizado na Universidade de Caen, na França, o estudo foi realizado ao longo de dois anos com 200 ratos de laboratório. Os ratos foram separados em três grupos, cada um alimentado de maneira diferente: apenas com milho NK603, com milho NK603 tratado com Roundup (o herbicida mais utilizado do mundo) e com milho não alterado geneticamente tratado com Roundup. Tanto o milho quanto o herbicida são propriedade do grupo americano Monsanto.
O milho em questão foi autorizado no Brasil em 2008 e está amplamente disseminado nas lavouras e alimentos industrializados. O Roundup é também largamente utilizado em lavouras brasileiras, sobretudo as transgênicas.
Os resultados revelaram mortalidade mais alta e frequente quando se consome esses dois produtos. As fêmeas desenvolveram numerosos e significantes tumores mamários, além de problemas hipofisários e renais. Os machos morreram, em sua maioria, de graves deficiências crônicas hepato-renais. O estudo foi publicado no dia 19/9 em uma das mais importantes revistas científicas internacionais de toxicologia alimentar, a Food and Chemical Toxicology.
De acordo com o coordenador do estudo, o professor Gilles-Eric Séralini, os efeitos do milho NK603 só haviam sido analisados até agora em períodos de até três meses. No Brasil, a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) autoriza o plantio, a comercialização e o consumo de produtos transgênicos com base em estudos de curto prazo, apresentados pelas próprias empresas que requisitam o registro.
O estudo coloca um fim à dúvida sobre os riscos que os alimentos transgênicos representam para a saúde da população e revela a frouxidão das agências sanitárias e de biossegurança em várias partes do mundo responsáveis pela avaliação e autorização desses produtos.
Idec alerta sobre o assunto desde 2007
No início de outubro foi adiado o julgamento que deveria decidir sobre uma apelação da ação proposta em 2007 pelo Idec que questionava a legalidade do parecer técnico emanado pela CTNBio aprovando a liberação de outro milho geneticamente modificado, o Milholl (Milho Liberty Link), da empresa multinacional Bayer.
A decisão técnica da CTNBio que autorizou a liberação do Milholl foi objeto de recurso administrativo interposto pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), sustentando tecnicamente a contrariedade à liberação do produto geneticamente modificado em razão da precariedade da avaliação de riscos realizada.
A ação foi julgada parcialmente procedente para anular a autorização para liberação comercial no Norte e Nordeste do Brasil e determinar que a União edite a norma no que se refere aos pedidos de sigilo de informações pelos proponentes de liberação de OGMs (Organismos Geneticamente Modificados). A norma deve passar a prever o acesso completo do teor dos documentos solicitados, com exceção apenas das informações que tiverem sigilo deferido.
Ainda não há nova data prevista para o julgamento.
Acadêmicos de todo o mundo estão firmando uma carta aberta em defesa da ciência e da equipe do pesquisador francês Gilles-Eric Seralini, que publicou no mês passado os resultados de uma pesquisa que avaliou, em 200 ratos de laboratório, os efeitos de uma dieta contendo milho transgênico NK603, tolerante ao herbicida Roundup, com e sem o herbicida, bem como contendo o herbicida sozinho (ver Boletins 601 e 602).
Na carta, os cientistas resgatam o histórico de ataques e perseguições que, sistematicamente, têm sofrido todos os pesquisadores que desenvolvem experimentos para avaliar a segurança dos transgênicos (e de alguns agrotóxicos) para a saúde e o meio ambiente e tornam públicos resultados considerados inconvenientes para as indústrias de biotecnologia.
Citam o exemplo de Ignacio Chapela, que foi fortemente perseguido no meio acadêmico quando era professor na Universidade de Berkeley, nos EUA, e publicou na revista Nature uma pesquisa demonstrando a contaminação de variedades tradicionais de milho no México (centro de origem da espécie) por transgênicos (Quist e Chapela, 2001).
Mencionam também o caso do bioquímico Arpad Pusztai, que em 1998 foi forçado à aposentadoria pelo Instituto Rowett, um dos mais renomados da Grã-Bretanha, após divulgar efeitos do consumo de batatas transgênicas em ratos de laboratório (Ewen e Pusztai, 1999b). A equipe do pesquisador também foi dissolvida, os documentos e computadores confiscados, e ele foi proibido de falar com a imprensa (em seu livro e documentário “O Mundo Segundo a Monsanto”, a jornalista francesa Marie-Monique Robin descreve com detalhes este e outros casos).
A carta faz referência ainda à perseguição de Andrés Carrasco, Professor de embriologia Molecular na Universidade de Buenos Aires, após a divulgação depesquisas demonstrando os efeitos do herbicida glifosato (princípio ativo do Roundup) em anfíbios (Paganelli et al., 2010). Carrasco chegou ao extremo de ter sua comitiva espancada durante uma palestra em La Leonesa, na província do Chaco, na Argentina.
Os cientistas também alertam para o fato de que comumente as críticas divulgadas nos meios de comunicação são enganosas ou falsas. Por exemplo, diz a carta, “Tom Sanders, do Kings College, em Londres, foi citado como dizendo: ‘esta cepa de rato é muito propensa a tumores mamários, particularmente quando a ingestão de alimentos não é restrita’ (Hirschler e Kelland, 2012). Mas ele deixou de dizer, ou desconhece, que a maioria dos estudos de alimentação realizados pela indústria, e pela própria Monsanto, usaram [os mesmos] ratos Sprague Dawley (por ex. Hammond et al., 1996, 2004, 2006; MacKenzie et al., 2007). Nestes e em outros estudos da indústria (por ex. Malley et al. 2007), o consumo de ração foi irrestrito.”
Os autores da carta ressaltam que comentários “equivocados” como esse de Sanders costumam ser amplamente difundidos no sentido de desqualificar as pesquisas que evidenciam os riscos dos transgênicos. Veja exemplos nativos no site do CIB.
Os cientistas criticam ainda os protocolos dos experimentos exigidos para a aprovação de transgênicos nos EUA e na Europa, que apresentam pouco ou nenhum potencial para detectar as suas consequências negativas (assim como é o caso da CTNBio no Brasil): “Os transgênicos precisam ser submetidos a poucos experimentos, poucos quesitos são examinados e os testes são conduzidos unicamente pelos requerentes da liberação comercial ou seus agentes. Além do mais, os protocolos normativos atuais são simplistas e baseados em suposições”. Segundo os cientistas, os desenhos experimentais das pesquisas conduzidas pelas empresas de biotecnologia não permitem detectar a maior parte das mudanças na expressão genética dos organismos resultantes do processo de inserção do transgene.
Para os autores da carta, embora os ensaios de alimentação bem conduzidos sejam uma das melhores maneiras para se detectar mudanças não previstas pelo processo de modificação genética, eles não são obrigatórios para a liberação comercial de transgênicos.
De maneira contundente e objetiva, os autores concluem que “quando aqueles com interesse tentam semear dúvida insensata em torno de resultados inconvenientes, ou quando os governos exploram oportunidades políticas escolhendo e colhendo provas científicas, comprometem a confiança dos cidadãos nas instituições e métodos científicos e também colocam seus próprios cidadãos em risco.”
Os autores da Carta Aberta convidam cientistas e acadêmicos a também assiná-la, o que pode ser feito enviando-se um email para isneditor@bioscienceresource.org com o título “Seralini letter”.
A íntegra da Carta Aberta está disponível em inglês na página eletrônica doIndependent Science News.
A versão traduzida por Paulo Ramos para o português está disponível em nosso blog Em Pratos Limpos.
Em 2001, a FAO previu que demoraria 60 anos, seguindo o ritmo atual, para acabar com a fome no mundo. O poder dominante do agronegócio vende a ideia de que está matando a fome do mundo, como se a distribuição de alimentos fosse gratuita e generalizada. O que é uma mentira histórica. As culturas de exportações, como soja, cana, café sempre acabaram com as comunidades tradicionais de agricultores familiares, parceiros, ou trabalhadores rurais. O artigo é de Najar Tubino.
por Najar Tubino (*)
Esta é a história da luta dos novos guerreiros e guerreiras da humanidade. Não, tradicionais guerreiros armados. No caso, as armas são alimentos produzidos sem veneno, respeitando os princípios fundamentais dos sistemas naturais, não degradando o solo, aniquilando matas na beira dos rios ou no interior das terras, conservando as diversas formas de vida e, principalmente, conseguindo sobreviver. Mesmo sendo considerados os pobres do mundo. As estatísticas da ONU sempre apontam o um bilhão de pessoas que passam fome, concentradas basicamente em sete países – Bangladesch, Indonésia, Etiópia, Índia e China, os principais. Também registra as populações que não tem saneamento básico, atinge um número superior a 2,5 bilhões. Em 1974, uma comissão de pesquisadores e autoridades mundiais previa que era possível acabar com a miséria em uma década.
Em 1996, a ONU decidiu estabelecer uma meta menos ambiciosa: reduzir o número pela metade até 2015. Faltam três anos, e a percentagem dos famintos não caiu dos quase 15% da população mundial. Em 2001, a FAO, organismos da ONU para agricultura e alimentação, previu que demoraria 60 anos, seguindo o ritmo atual, para acabar com a fome no mundo. É também conhecida a política expansionista do modelo agroindustrial mundial, que prevê necessidade de aumentar a produção em até 60%, em face do aumento populacional – para nove bilhões em 2050.
Significaria, seguindo o mesmo raciocínio, um aumento de mais 120 milhões de hectares, uma área equivalente ao dobro do que os Estados Unidos plantam hoje – 64 milhões de hectares. A pergunta é óbvia: como será a expansão? No modelo industrial, seguindo o coquetel de químicos (fertilizantes), conforme a previsão dos cartéis do agronegócio a venda de fertilizantes aumentará de 120 milhões de toneladas para 180, em 2020.
Mais os agrotóxicos, conforme previsão da Syngenta, maior fabricante mundial, o mercado deverá crescer de US$70 para US$200 bilhões até 2025. O faturamento do próprio grupo deverá saltar de US$11,6 bilhões para US$17 bilhões, crescimento de 46%. Inclui semente e agrotóxico, na verdade é quase a mesma coisa. A planta já contém o veneno, não sobrevive, nem cresce, sem o outro.
Portanto, no manual das sete irmãs agroquímicas – Basf, Bayer, Dupont, Syngenta, Monsanto, entre elas-, não há nenhuma previsão de mudança em suas posturas. Muito pelo contrário, a Monsanto, líder mundial em venda de sementes transgênicas, tem comprado empresas na área de hortaliças, desde 2005. Muito menos o cartel dos processadores e compradores de grãos, reduzidos a quatro grandes grupos – ADM, Cargill, Bunge e Dreyfus, duas delas, Cargill e Dreyfus ainda sob controle dos herdeiros dos fundadores.
Claro, o mundo precisa de 2,3 bilhões de toneladas de grãos, contando milho, trigo e arroz, as três mais produzidas, e depois soja, em menor escala, usada, no modelo industrial, como ração para o gado europeu, galinhas e porcos na China. Também no Brasil, que é o segundo maior produtor mundial, e deve chegar a 80 milhões de toneladas, no próximo ano. Mas não são para a boca do bilhão de famintos, 75% vivendo na zona rural. O índice de “insegurança alimentar”, usando o termo do momento, é 9,3% no nordeste, enquanto a média no Brasil rural é 7%e a urbana 4,3%.
Na América Latina e Caribe atinge 35%, conforme o estudo recente da FAO. Não é uma coincidência: a América Latina produz metade da soja mundial, Brasil e Argentina são especialistas na produção de alimentos, mas o povo que não come, mora ao lado. Acontece que o poder dominante do agronegócio vende a ideia de que está matando a fome do mundo, como se a distribuição de alimentos fosse gratuita e generalizada. O que é uma mentira histórica. As culturas de exportações, como soja, cana, café sempre acabaram com as comunidades tradicionais de agricultores familiares, parceiros, ou trabalhadores rurais que pelo menos mantinham um quintal para plantar o feijão, milho, mandioca e algumas verduras, além da criação de pequenos animais, para o sustento da família.
O planeta tem uma área de 8,7 bilhões de hectares. Dois bilhões já foram detonados desde a segunda guerra mundial. Estão degradados por erosão, perda de solo, perda de nutrientes, perda da vegetação e, por último, perda de espécies naturais dos ecossistemas. Um hectare de terra do cerrado, por exemplo, tem 150 toneladas de micro-organismos, que se proliferam na mesma quantidade em que morrem. Não existe solo sem vida microbiana. As leguminosas, inclusive a soja, que fixam nitrogênio no solo, fazem por intermédio de microrrizas, que são associações de fungos e bactérias. O nitrogênio faz parte da atmosfera, mas a agricultura usa o nitrogênio processado do petróleo, ou do gás metano (CH4). Continue lendo »
As corporações…você sabe o que significa? O quanto estas interferem no seu dia-a-dia? O quanto estão cada vez mais intrinsicamente ligadas ao mundo da políticas públicas, das eleições municipais? O quanto estão aliadas às Nações Unidas (ONU)? O quanto causam de degradação ambiental? O que estão fazendo você comer, beber, vestir, consumir?? Veja o vídeo e faça suas próprias ideias.
Diante de tais questões, Porto Alegre, há uma efervescência popular contra as medidas corporativas tomadas pela prefeitura municipal.

intervenção urbana retrata como a cidade que já foi referência em participação popular, considerada até cidade da educação popular tem diferenciado(ou não) público e privado.
Para saber mais leia: Coca-Cola terá que sair da Bolívia antes do fim do mundo, já em Porto Alegre…
Para saber mais leia: Enquanto reproduzem-se estádios para Copa, o seu mascote corre risco de extinção
Anvisa adverte: uso de sistemático de agrotóxicos pode causar amnésia e dependência financeira etc e tal…
por Rachel Duarte

Desde 1982, a Lei dos Agrotóxicos restringe no RS a venda e distribuição de substâncias que não são liberadas nos países em que são produzidos | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Em uma realidade onde os brasileiros consomem por ano uma média de 5,2 litros de agrotóxico e o país é líder mundial em insumos químicos na agricultura, a bancada ruralista tenta agora modificar a legislação do único estado que proíbe a comercialização de agrotóxicos banidos nos países de origem. Desde 1982, a Lei dos Agrotóxicos restringe a venda e distribuição das substâncias que não são liberadas nos países em que são produzidos. Porém, o deputado estadual Ronaldo Santini (PTB), apresentou o Projeto de Lei 78/2012 para retirar esta prerrogativa do estado gaúcho a fim de “aumentar a competitividade do agronegócio”.
Segundo Santini, a apresentação do texto segue uma preocupação com o setor da agricultura e uma solicitação da bancada federal gaúcha. “O Rio Grande do Sul fica atrás dos demais estados do país que revogaram esta lei, que deixa os agricultores sem acesso a determinados produtos necessários para igualar a competitividade da nossa produção”, explica. Conforme o deputado, “na medida em que a Anvisa é responsável pela liberação de todos os produtos que entram no Brasil, se torna um atraso a lei gaúcha”.
Retrocesso é a revogação da lei, na opinião do deputado estadual Edegar Pretto (PT). “O mundo caminha na redução dos agrotóxicos e para o aumento do consumo dos produtos orgânicos. Sabemos dos malefícios dos agrotóxicos. O Brasil é líder no consumo deles nas lavouras. Isto significa envenenar as pessoas”, afirma.
Pretto e Raul Pont (PT) foram os únicos membros da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que votaram contra o PL do deputado Santini. Favoráveis a proposta de liberar componentes banidos nos países de origem foram os deputados Edson Brum (PMDB), Marco Alba (PMDB), João Fischer (PP), Pedro Westphalen (PP), Lucas Redecker (PSDB), Heitor Schuch (PSB) e Raul Carrion (PCdoB).
“Eu não me lembro de ter votado a favor. Acho que é um tema que merece ser debatido pelo risco ao meio ambiente”, disse Carrion. Já Pedro Westphalen alega que a situação do Rio Grande do Sul “é irregular em relação ao restante do país”.
A proposta depende de acordo parlamentar para ir à votação, o que não será dado pela bancada do PT, adianta Edegar Pretto. “Nossa posição é contrária. Este argumento de que é necessidade dos agricultores não pode passar assim ao natural. Quem precisa de veneno?”, acusa.
Contrários ao agrotóxico preparam protesto no legislativo
A discussão é urgente e deverá ocorrer na terça-feira (25), quando ocorre a próxima sessão plenária. Movimentos em defesa do meio ambiente e que lutam pelos alimentos livre de agrotóxicos se organizam para protestos na Assembleia Legislativa do RS.
Na internet um ciberativismo incentiva os usuários do Facebook a compreenderem o complexo jogo de interesses que está por trás da articulação política. Um grupo publicou inclusive a lista de emails dos deputados estaduais e orienta as pessoas insatisfeitas com a flexibilização no controle dos agrotóxicos vendidos em território gaúcho a enviarem mensagens aos parlamentares.
Para o agrônomo e integrante da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, Edmundo Oderich, os interesses econômicos e políticos não podem seguir prevalecendo acima das questões de saúde e sustentabilidade. “Há vários riscos para a humanidade, desde o consumo humano, meio ambiente e para o trabalhador que lida com estas substâncias. Danos agudos levam os agricultores que aplicam estes produtos a terem doenças a longo prazo. Existem estudos neste sentido”, alerta.
“Agricultores que aplicam agrotóxicos tem danos de saúde a longo prazo”, alerta agrônomo
De acordo com Oderich, desde os danos invisíveis ao consumidor na ingestão de produtos com agrotóxicos, como câncer e Mal de Alzheimer, até problemas mais sérios à saúde estão relacionados ao uso destas substâncias na produção agrícola. “Recente pesquisa na Inglaterra já alerta para os danos da combinação de mais de um princípio ativo no consumo humano. Sendo que frutas e verduras já combinam no mínimo quatro deles. A legislação tem que ser rígida mesmo. Outros estados estavam começando a buscar a lei gaúcha como referência para restringirem os agrotóxicos. Não podemos retroceder”, defende.
A urgência na aprovação do PL 78/2012 na Assembleia Legislativa gaúcha se deve também a necessidade de aplicar determinada substância que pode, segundo os políticos que o defendem, trazer uma economia de até 50% na produção agrícola, o que refletirá em lucros na próxima safra. “Esta é a época que precisamos usar o secante nas lavouras. O Randap. Ele é proibido, mas tem composição semelhante ao Glifosato, já utilizado amplamente no estado”, defende o deputado João Fischer (PP).
De acordo com a tabela dos defensores do fim do agrotóxico, o próprio Glifosato não teria liberação da Anvisa. “O Randap é um dos piores agrotóxicos. Desculpa todos têm para querer alterar a lei. Quem defende a liberação dos produtos banidos lá fora tem que assumir uma posição de defensor do veneno, porque é isto o que significa. São discursos que não seguem o interesse das pessoas”, afirma o deputado Edegar Pretto.
O parlamentar progressista João Fischer insiste que conhece o assunto. “Eu visitei a Monsanto nos EUA quando começamos a utilizar o sistema de secantes. A empresa desenvolveu o produto com pesquisas e domina este mercado. O produto é o mesmo que o Glifosato, mas custa o dobro aqui no Brasil”, acentua.
Empresas fazem lobby e encontram terras férteis no Brasil
O jogo de interesses que envolve o mercado das empresas fabricantes dos chamados defensivos agrícolas é antigo e bilionário mesmo. Envolve além da Monsanto, outras gigantes como a Bayer e Syngenta. “Há um lobby muito grande. Somando o investimento que as seis principais empresas de agrotóxicos fazem no Brasil, ultrapassa o orçamento do Incra, Embrapa e Ministério do Desenvolvimento Agrário junto”, diz o agrônomo Edmundo Oderich.
Ele ressalta que, este caminho é o inverso do que poderia ser adotado como igualitário e sustentável. “A agricultura familiar, que não utiliza agrotóxico, produz 70% dos alimentos do Brasil, o que corresponde a um PIB de mais de 30% na economia brasileira. Produzir sem agrotóxico é mais fácil. A produção das commodities agrícolas é inviável se não utilizar o agrotóxico. Então, restringir a comercialização dos agrotóxicos significa produção em menores áreas de monoculturas, ou seja, desconcentração de terra e isto não interessa a bancada ruralista”, alega Oderich.
“Já estamos passando por dificuldades em relação à Argentina, que utiliza os produtos que o RS restringe. Eles pagam mais barato e tem mais competitividade. O PL 78 quer dar competitividade aos nossos produtos.Paraná, São Paulo e Minas Gerais já fazem e nunca houve apontamentos de problemas com o uso destes produtos”, alega o deputado João Fischer. Ele defende também que é necessário aumentar investimentos em pesquisa para desenvolver agrotóxicos nacionais. “Fórmulas brasileiras que nos permitam diminuir a importação e aumentar mais a nossa competitividade”, reforça.
Já o proponente do PL, deputado Ronaldo Santini (PTB) alega que, a alimentação orgânica e livre de agrotóxico é o ideal, porém, não é possível permitir que lavouras fiquem sem conseguir produzir em prol de uma humanidade naturalista. “Se tudo fosse orgânico, qual a alternativa que daremos aos agricultores? Se não tivermos uma política de estímulo aos produtores, eles vão ter que contrabandear os produtos de outros estados. Transformaremos os produtores em criminosos”, diz.
Fonte: sul21

Os mesmos que apoiam o uso indiscriminado de agrotóxicos, também apoiam o uso dos transgênicos….
Occupy Monsanto, saiba mais aqui

“Quer você goste ou não, as chances são grandes de a Monsanto ter contaminado com produtos químicos e organismos geneticamente modificados a comida que você comeu hoje. Monsanto controla grande parte do suprimento mundial de alimentos à custa da democracia no mundo de alimentos”, alerta o Movimento Ocupa Monsanto.
As manifestações começam no dia do aniversário do movimento social Ocupa Wall Street, que nasceu ano passado, nos Estados Unidos, para se contrapor ao modelo político – econômico dominante. Até o momento, mais de 65 atividades já estão confirmadas em países como Alemanha, Canadá, EUA, Índia, Paraguai, Filipinas, Polônia, Argentina, Austrália, Espanha, Rússia, Japão, entre outros.
Em Oxnard, na Califórnia, as manifestações já começaram. Na quarta-feira (12), ativistas que se autodenominavam da Unidade de Crimes Genéticos fecharam os pontos de acesso às instalações onde estão guardadas sementes da Monsanto para serem distribuídas. A ação fez com que a sede da transnacional passasse ao menos um dia sem distribuir os organismos geneticamente modificados.
Depois das atividades teatrais e da apresentação de alegorias como o “peixe-milho” nove ativistas ‘anti-OGM’ foram levados/as pelas forças de segurança e presos sob a acusação de invasão de propriedade.
Dia 17, também é importante que grupos, organizações, coletivos e comunidades possam colaborar organizando atividades presenciais ou mesmo virtuais, criando eventos nas redes sociais e publicando fotos e vídeos para lembrar que o momento que os produtos da Monsanto não são bem vindos na mesa de milhares de pessoas.
Monsanto
A transnacional produz 90% dos transgênicos consumidos e é líder no mercado de sementes. Seu nome está constantemente ligado a polêmicas quando o assunto é organismos geneticamente modificados. A empresa é acusada de biopirataria, contrabando de sementes, manipulação de dados científicos e de ser responsável pelo suicídio de agricultores indianos, que se endividaram por conta dos altos custos de sementes transgênicas e de insumos químicos necessários às plantações de transgênicos, entre outros crimes.
Para mais informações, acesse: http://occupy-monsanto.com/
FOnte: Adital
Numa condenação considerada histórica, a justiça da cidade de Córdoba declarou delito penal as pulverizações com agrotóxicos em campos de soja cerca de bairros povoados. E condenou duas das três pessoas que foram levadas aos tribunais.
Trata-se do emblemático caso do bairro Ituzaingó Anexo, onde há 12 anos as famílias denunciam mortes e lesões em conseqüência do uso de agrotóxicos.
Sobre uma população de cinco mil habitantes, entre 2002 e 2009 morreram 272 pessoas, 82 delas de câncer. No mesmo período foram registrados 272 abortos e 23 crianças nasceram com malformações congênitas. Até setembro de 2010 se registram 143 pessoas com câncer.
A pena, em si, foi uma decepção. Os moradores queriam cadeia para os produtores agropecuários Jorge Alberto Gabrielli e Francisco Parra, e para o agente pulverizador Edgardo Jorge Pancello, por usarem o herbicida glifosato e o inseticida organoclorado endosulfan.
Mas a Câmara do Crime de Córdoba impôs três anos de prisão condicional para Parra e Pancello, e absolveu Gabrielli por falta de provas. A sentença indica também que Parra tem que fazer trabalhos comunitários durante quatro anos e não pode usar agroquímicos por oito. Pancello também deverá fazer serviços comunitários e ficou inabilitado para aplicar produtos agroquímicos durante dez anos.
Mesmo assim a condenação é importante, porque pela primeira vez a atividade de pulverização com agrotóxicos cerca de áreas urbanas foi considerada um delito na Argentina – e na América Latina.
Isso estabelece jurisprudência para todo o continente, onde há milhares de ações contra produtores rurais, e pode chegar a alcançar as multinacionais fabricantes de agrotóxicos.
A luta em Córdoba começou pela determinação de uma das mães do bairro, Sofía Gatica, que em 1997 perdeu um bebe que havia nascido sem os rins. Ela demorou a juntar uma coisa com a outra, até que percebeu um número pouco usual de mulheres com lenços na cabeça e crianças com máscaras a caminhar por Ituzangó.
Sozinha, começou um levantamento, e já naquele ano detectou 97 pessoas com câncer só no seu bairro! Hoje se sabe que a taxa de câncer na região é 30 vezes maior que a média nacional (dados da Organização Panamericana de Saúde) e que das 142 crianças entre dois e seis anos da localidade, 80% possuem tem agrotóxicos no organismo: chumbo, arsênico e PCB (elemento presente em transformadores elétricos), entre outros. Outros dados em http://www.juicioalafumigacion.com.ar/
Os cultivos transgênicos na argentina, sujeitos à pulverização, cobrem 22 milhões de hectares e efetam, direta e indiretamente, a 12 milhões de habitantes. Mas o tema não é preocupante somente aqui.
Há três anos o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de consumo de agrotóxicos no mundo segundo a Associação Brasileira de Saíde Coletiva (Abrasco). Apenas na safra de 2011 foram usados 835 milhões de litros de herbicidas, fungicidas e inseticidas. O consumo por habitante chega a cinco quilos de agrotóxico por ano.
É de parar para pensar.
A Câmara analisa proposta que obriga empresas de aviação agrícola a enviar, aos órgãos responsáveis pela agricultura e pela proteção do meio ambiente da União e dos estados e do Distrito Federal, cópias das receitas agronômicas utilizadas na compra e na aplicação de agrotóxicos. As receitas devem ser encaminhadas anualmente e vir acompanhadas de relatório sobre operações aéreas realizadas. A medida está prevista no Projeto de Lei (PL 3615-12), do deputado Padre João (PT-MG).
O parlamentar explica que a proposta foi elaborada a partir das discussões de Subcomissão Especial sobre o uso de agrotóxicos e suas consequências à saúde, instituída em 2011 pela Comissão de Seguridade Social e Família. “Constataram-se fatos preocupantes concernentes ao uso de agrotóxicos, implicando a contaminação de pessoas, alimentos, água, solo e ar”, explica o parlamentar.
Segundo o parlamentar, o receituário agronômico, exigido pela lei que trata do assunto (a7.802/89) tem sido utilizado de forma pouco efetiva, sem assegurar a compra e o uso adequado de tais produtos pelos agricultores. O deputado acrescenta que a aviação agrícola com frequência é empregada sem a observância das imprescindíveis medidas de segurança.
Tramitação
A proposta, que tramita em caráter conclusivo, será analisada pelas Comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
A 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) condenou, na última semana, a empresa Monsanto do Brasil a pagar indenização de R$ 500 mil por danos morais causados aos consumidores ao veicular, em 2004, propaganda em que relacionava o uso de semente de soja transgênica e de herbicida à base de glifosato usado no seu plantio como benéficos à conservação do meio ambiente.
A empresa de biotecnologia, que vende produtos e serviços agrícolas, também foi condenada a divulgar uma contrapropaganda esclarecendo as consequências negativas que a utilização de qualquer agrotóxico causa à saúde dos homens e dos animais.
Segundo o Ministério Público Federal, que ajuizou a ação civil pública contra a Monsanto, o comercial era enganoso e o objetivo da publicidade era preparar o mercado para a aquisição de sementes geneticamente modificadas e do herbicida usado nestas, isso no momento em que se discutia no país a aprovação da Lei de Biossegurança, promulgada em 2005.
A campanha foi veiculada na TV, nas rádios e na imprensa escrita. Tratava-se de um diálogo entre pai e filho, no qual o primeiro explicava o que significava a palavra “orgulho”, ligando esta ao sentimento resultante de seu trabalho com sementes transgênicas, com o seguinte texto:
– Pai, o que é o orgulho?
– O orgulho: orgulho é o que eu sinto quando olho essa lavoura. Quando eu vejo a importância dessa soja transgênica para a agricultura e a economia do Brasil. O orgulho é saber que a gente está protegendo o meio ambiente, usando o plantio direto com menos herbicida. O orgulho é poder ajudar o país a produzir mais alimentos e de qualidade. Entendeu o que é orgulho, filho?
– Entendi, é o que sinto de você, pai.
A empresa defendeu-se argumentando que a campanha tinha fins institucionais e não comerciais. Que o comercial dirigia-se aos agricultores gaúchos de Passo Fundo com o objetivo de homenagear o pioneirismo no plantio de soja transgênica, utilizando menos herbicida e preservando mais o meio ambiente.
A Justiça Federal de Passo Fundo considerou a ação improcedente e a sentença absolveu a Monsanto. A decisão levou o MPF a recorrer ao tribunal. Segundo a Procuradoria, a empresa foi oportunista ao veicular em campanha publicitária assunto polêmico como o plantio de transgênicos e a quantidade de herbicida usada nesse tipo de lavoura. “Não existe certeza científica acerca de que a soja comercializada pela Monsanto usa menos herbicida”, salientou o MPF.
O relator do voto vencedor no tribunal, desembargador federal Jorge Antônio Maurique, reformou a sentença. “Tratando-se a ré de empresa de biotecnologia, parece óbvio não ter pretendido gastar recursos financeiros com comercial para divulgar benefícios do plantio direto para o meio ambiente, mas sim a soja transgênica que produz e comercializa”, afirmou Maurique.
O desembargador analisou os estudos constantes nos autos apresentados pelo MPF e chegou à conclusão de que não procede a afirmação publicitária da Monsanto de que o plantio de sementes transgênicas demanda menor uso de agrotóxicos. Também apontou que agricultores em várias partes do mundo relatam que o herbicida à base de glifosato já encontra resistência de plantas daninhas.
Segundo Maurique, “a propaganda deveria, no mínimo, advertir que os benefícios nela apregoados não são unânimes no meio científico e advertir expressamente sobre os malefícios da utilização de agrotóxicos de qualquer espécie”.
O desembargador lembrou ainda em seu voto que, quando veiculada a propaganda, a soja transgênica não estava legalizada no país e era oriunda de contrabando, sendo o comercial um incentivo à atividade criminosa, que deveria ser coibida. “A ré realizou propaganda abusiva e enganosa, pois enalteceu produto cuja venda era proibida no Brasil e não esclareceu que seus pretensos benefícios são muito contestados no meio científico, inclusive com estudos sérios em sentido contrário ao apregoado pela Monsanto”, concluiu.
O valor da indenização deverá ser revertido para o Fundo de Recuperação de Bens Lesados, instituído pela Lei Estadual 10.913/97. A contrapropaganda deverá ser veiculada com a mesma frequência e preferencialmente no mesmo veículo, local, espaço e horário do comercial contestado, no prazo de 30 dias após a publicação da decisão do TRF4, devendo a empresa pagar multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento. Ainda cabe recurso contra a decisão .
E nós ecologistas que erámos alarmistas, contra o “desenvolvimento”…
Monsanto em apuros
Cinco milhões de agricultores já processam empresa, em ações que podem custar R$ 7,5 bi. Acostumada a pressionar e intimidar, empresa pode beber seu próprio veneno
A companhia de biotecnologia estadunidense Monsanto, maior empresa de sementes do mundo, pode acabar tendo que pagar 7,5 bilhões de dólares a cinco milhões de plantadores de soja brasileiros, que processam a empresa pela cobrança de royalties.
A Monsanto, uma das corporações mais detestadas do mundo, tornou-se aos olhos de muitos o símbolo mais facilmente reconhecido de controle coorporativo sobre os alimentos e a agricultura. Suas táticas duras para cobrar royalties de agricultores pelas suas sementes patenteadas foram documentadas nos filmes “Food Inc” e “El Mundo Según Monsanto”. Esta corporação, tão acostumada a processar e intimidar agricultores, vive uma situação contrária no Brasil, onde agora é processada por agricultores.
O Brasil é o segundo maior produtor de cultivos transgênicos ou geneticamente modificados (GM) no mundo, superado somente pelos Estados Unidos. A vasta maioria deste cultivo consiste em soja, que tem sido alterada geneticamente pela Monsanto para resistir ao herbicida Roundup, produto da mesma companhia.
O Brasil exporta a maior parte de sua colheita de soja para Europa e China, que a utilizam para produzir biodiesel ou como alimento para gado. Estima-se que 85% da soja brasileira sejam geneticamente modificados. Não se sabe a proporção exata, porque a soja da Monsanto foi contrabandeada da Argentina a partir de 1998. Em 2005, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para fazer frente a uma situação de fatos consumados, legalizou o cultivo de soja GM no país.
Uma vez legalizada, a Monsanto começou a cobrar dos agricultores brasileiros um imposto de 2% por sua produção de soja GM. A companhia também comercializa soja não modificada geneticamente e requer aos agricultores que mantenham ambas as variedades estritamente separadas. Caso seja encontrada soja transgênica em carregamento de soja que se supõe não modificada, o agricultor é penalizado com uma cobrança de 3%.
Em 2009, um grupo de sindicatos rurais do Rio Grande do Sul processou a Monsanto, denunciando que a soja GM e a soja não GM são praticamente impossíveis de se separar e que, portanto, o “imposto Monsanto” é injusto.
Esta alegação contradiz diretamente um dos principais meios de propaganda da indústria da biotecnologia: de que as sementes e plantas transgênicas nunca aparecem onde não deveriam estar. Esta ocorrência, conhecida como contaminação genética, é negada pelas companhias. Quando isto ocorre, eles negam, mas quando a evidência é demasiadamente contundente para negá-la, a companhia minimiza a importância ou coloca a culpa no agricultor.
“O problema é que separar a soja GM da soja convencional é difícil, dado que a soja GM é altamente contaminante”, declarou João Batista da Silveira, presidente do Sindicato Rural de Passo Fundo (RS), um dos principais denunciantes do caso.
No último mês de abril, um juiz do Rio Grande do Sul determinou que são ilegais as cobranças da Monsanto e notou que a patente da semente de soja GM da companhia estava expirada no país. O juiz também ordenou que a empresa deixe de cobrar royalties e também devolva todos os royalties cobrados desde 2004 – estamos falando de 2 bilhões de dólares.
A Monsanto está apelando da decisão, mas recebeu outro golpe no dia 12 de junho, quando o Supremo Tribunal Federal determinou de forma unânime que a decisão do judiciário do Rio Grande do Sul seja abrangente ao país inteiro. Isso aumenta o montante envolvido para 7,5 bilhões de dólares. Agora, os agricultores que processam a Monsanto são cinco milhões.
Em uma declaração concisa, a Monsanto declarou que seguirá cobrando os royalties dos agricultores brasileiros até que o caso se resolva em definitivo.
Em 2008, a revista científica Chemical Research in Toxicology publicou um estudo do cientista francês Gilles-Eric Seralini, especialista em biologia molecular e professor da Universidade de Caen, que indica que o Roundup é letal para células humanas. Conforme sua investigação, doses muito menores que as utilizadas em cultivos de soja provocam morte celular no solo em poucas horas.
Em 2010, a mesma revista publicou um estudo revisado pelos parceiros do embriólogo argentino Andrés Carrasco, principal pesquisador do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet) e diretor do Laboratório de Embriologia Molecular da Universidade de Buenos Aires, que mostrou que o glifosato, ingrediente ativo do Roundup, é extremamente tóxico a embriões de anfíbios mesmo em doses até 1.540 vezes menores que as utilizadas nas fumigações agrícolas.
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*Carmelo Ruiz Marrero é escritor, jornalista e educador ambiental. Dirige o Projeto de Biossegurança de Porto Rico.
Em livro e documentário, Wilfried Huismann acusa a organização ambientalista de cooperar com alguns dos maiores destruidores do meio ambiente no mundo, dando a eles uma imagem verde. O WWF refuta as acusações.
O urso panda é a marca registrada da organização ambientalista WWF e significa sustentabilidade e proteção ambiental. Na Europa, ele também estampa diversos produtos, desde iogurtes até peixe congelado, e é considerado uma das “marcas mais confiáveis do mundo”, como escreve o jornalista e documentarista alemão Wilfried Huismann em seu novo livro Schwarzbuch WWF – Dunkle Geschäfte im Zeichen der Panda (O livro negro do WWF – Negócios obscuros em nome do panda, em tradução livre).
Justamente por isso, diz o autor, ele se irritou ao ver a marca do WWF na embalagem de um salmão de uma empresa norueguesa. Segundo suas pesquisas, ela seria responsável por uma gigantesca imundície ambiental. Em entrevista à Deutsche Welle, Huismann afirma ter descoberto isso em 2009, quando estava no Chile para rodar um filme sobre a criação de salmão.
“Toneladas de antibióticos e substâncias químicas foram lançadas ao mar e populações de peixes foram dizimadas para transformá-las em alimentos para os salmões em cativeiro”, afirma Huismann. Os princípios de preservação ambiental são deixados de lado quando o panda do WWF aparece em produtos de firmas que agem dessa maneira, conclui. Desde então, o autor está em pé de guerra com a organização ambientalista.
Cooperação com os principais destruidores?
No ano passado, Huismann provocou uma grande polêmica com o documentário Pakt mit dem Panda (Pacto com o panda). Neste ano, renovou suas acusações em forma de livro. Segundo o autor, o WWF coopera com os grandes destruidores do meio ambiente no mundo, como a Monsanto (maior empresa de biotecnologia do planeta) e as petrolíferas BP e Shell, dando a elas uma imagem verde.
O WWF rejeita com veemência essas acusações. À Deutsche Welle, o porta-voz da organização na Alemanha, Jörn Ehlers, disse que o autor tem todo o direito de expressar suas opiniões sobre o WWF. “Mas quando ele ultrapassa esse limite e espalha falsas suposições pelo mundo, é claro que reagimos de forma enérgica.”
A organização ambientalista entrou com um pedido de liminar contra o Livro negro do WWF no Tribunal Regional de Colônia. O tribunal demonstrou compreensão com algumas objeções apresentadas, mas ao mesmo tempo assinalou que a ONG deve saber aceitar críticas. Agora as partes conflitantes tentam encontrar uma solução extrajudicial. Ehlers admite ser complicado fornecer provas que refutem cada uma das acusações feitas por Huismann.
Como exemplo, menciona as declarações de Huismann sobre o trabalho do WWF na Indonésia. Lá florestas estão sendo derrubadas para dar lugar a plantações de palmas para a produção de azeite de dendê. Segundo a crítica de Huismann, o WWF dá-se por satisfeito com a proteção de uma pequena parte da floresta e “fecha os olhos” para o resto. Essa situação acaba afetando o habitat dos orangotangos – animais que o WWF usa para arrecadar doações.
O WWF apresentou imagens de satélite para refutar a acusação, mas Ehlers diz que é muito difícil comprovar isso detalhadamente. Fica, então, “uma palavra contra a outra”.
Imagem verde para a indústria?
Outro ponto de discórdia é a presença do WWF em mesas redondas com representantes da indústria, por exemplo a Round Table Palm Oil (mesa redonda do óleo de dendê). Esses debates têm por função elaborar critérios e padrões para a certificação da produção de óleo de dendê sustentável. “Puro engodo”, afirmou Huismann. Segundo ele, não existe produção de óleo de dendê sem desmatamento. Outras organizações ambientalistas se recusam a participar de tais mesas redondas com a indústria.
O porta-voz do WWF alemão não aceita a acusação de que se trata de uma “cooperação com destruidores da natureza, como alegado por Huismann”. Segundo ele, o objetivo em tais debates é estabelecer padrões mínimos para poupar a natureza e não dar “algum tipo de carta-branca para o desmatamento”. O mesmo vale para as negociações com a indústria da soja na América Latina, mesmo que tal indústria aposte na tecnologia genética, acresceu.
Ehlers reconhece, porém, que há o perigo de que a participação de uma organização ambientalista como o WWF em tais mesas-redondas sirva apenas para dar uma imagem verde para a indústria. “Estamos cientes desse risco. Discutimos intensamente se isso nos traz algum benefício. Mas achamos que, dessa forma, alcançaremos muito mais do que se nos retirássemos”, afirmou o porta-voz.
Outras organizações têm todo o direito de pensar diferente, diz Ehlers. “Temos que esperar para ver qual a estratégia será, em última análise, a mais bem-sucedida”, acresceu.
Frente à pergunta se a criação de um plano global de uso da terra pelo WWF não representaria uma “prestação de serviços para a indústria”, o porta-voz responde: “Bobagem, isso é típico de Huismann”. Segundo ele, o jornalista distorce os fatos, “como se o WWF fosse o responsável por toda a destruição ambiental no planeta.”
Diferentes abordagens sobre a proteção ambiental
Apesar das diferenças, as partes conflitantes quase chegaram a um acordo nos últimos dias – até o WWF liberar uma nota para a imprensa, que não havia sido acertada com o grupo editorial Random House, sobre o acordo. Nela, o WWF afirma que também a nova edição do livro apresenta uma “caricatura” baseada em declarações falsas. Em consequência, a editora encerrou as conversações.
Se o livro de fato contivesse difamações e declarações falsas, como afirmou o WWF, as respectivas passagens teriam sido proibidas pela Justiça, argumentou a editora.
O acirramento do conflito mostra que a “maior e mais influente organização ambientalista na Alemanha”, como o WWF se define, leva as denúncias a sério. A credibilidade e a imagem da ONG do panda estão em jogo e, com isso, também sua receita. Mas na disputa entre WWF e Huismann trata-se também de diferentes abordagens sobre a proteção ambiental.
Enquanto o Greenpeace e outras organizações ambientais apostam no protesto, o WWF está convencido de que somente através do diálogo com a indústria pode-se proteger o meio ambiente. Até agora, isso foi pouco comunicado ao público pela organização, afirma Ehlers.
Essa é a grande lição da controvérsia com o Livro negro, diz. “Nós decidimos seguir esse caminho porque acreditamos que assim podemos alcançar mais. Talvez devêssemos explicar melhor por que fazemos essas coisas, para que as pessoas possam entender.”
Com o Livro negro do WWF, Huismann queria desencadear um amplo debate sobre o movimento ambientalista. Esse objetivo parece ter sido alcançado – tanto dentro quanto fora do WWF. Ao menos nesse ponto, organização ambientalista e autor estão de acordo.
Os doadores do WWF e os consumidores que confiavam no símbolo do panda continuam inseguros. E enquanto as conversas entre o WWF e a editora permanecem suspensas, as vendas do livro – já em segunda edição – prosseguem.
Autora: Irene Quaile (ca)
Revisão: Alexandre Schossler
Matéria da Agência Deutsche Welle, DW, publicada pelo EcoDebate.
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