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Paula Adamo Idoeta

Da BBC Brasil em Londres

‘Decrescimento’ em países que ‘se desenvolveram demais’ frearia consumismo

Enquanto países afetados pela crise se esforçam para voltar a crescer e emergentes, como o Brasil, fomentam seu mercado de consumo interno, existe um movimento defendendo o “decrescimento” como a única forma de garantir a sustentabilidade do planeta a longo prazo.

O decrescimento (“degrowth”, em inglês) significaria tirar as economias globais da “perpétua busca pelo crescimento” do Produto Interno Bruto (PIB), reduzindo a escala de produção e consumo, distribuindo melhor recursos e trabalho, com a meta de criar uma economia mais sustentável e frear o uso de recursos naturais.

A proposta não é exatamente nova – já vem sendo defendida há alguns anos por correntes ambientalistas -, mas ganha repercussão com uma conferência sobre o tema em Montreal, em maio, e com o encontro Rio+20, em junho, que reunirá delegações de todo o planeta para discutir sustentabilidade.

Em relatório recém-lançado, o instituto de pesquisas ambientais WorldWatch Institute, dos EUA, dedica um capítulo para defender o decrescimento “nos países que se desenvolveram demais”, ou seja, onde o consumismo e a dívida tomaram proporções excessivas.

O autor do capítulo, Eric Assadourian, um dos diretores do WorldWatch Institute, defende que, “países e populações superdesenvolvidos terão que proativamente buscar o decrescimento, ou seguir no caminho atual até que o litoral se inunde (por conta do aquecimento global) e outras grandes mudanças ecológicas os forcem a não crescer”.

Em entrevista à BBC Brasil, Assadourian explica como esse “decrescimento” poderia ser aplicado na prática, reconhecendo que seria necessária uma significativa mudança na forma como pensamos a economia e o consumo.

Eric Assadourian, do WWI. Foto: Divulgação

BBC Brasil – O que o senhor quer dizer com o “decrescimento em países superdesenvolvidos”?

Eric Assadourian – Países com altos índices de desenvolvimento, como os EUA, abraçam demais o consumismo, apresentam altas taxas de obesidade, excessivo uso de automóveis, tudo isso às custas do meio ambiente.

BBC Brasil – Como esse decrescimento ocorreria, considerando que vemos o consumo como sinônimo de prosperidade?

Eric Assadourian – São quatro pontos-chave: 1. Transformar a indústria do consumo, tornando a ideia da vida sustentável tão natural quanto a ideia de consumir. Por exemplo, a noção de que cada um de nós tem que ter um carro próprio é antiquada;

2. Redistribuir os impostos, cobrando mais de indústrias que poluem, da publicidade (que fortalece o consumismo) e de quem ganha além do necessário para a sobrevivência básica;

3. Reduzir as jornadas de trabalho, dando às pessoas mais tempo, redistribuindo riquezas e gerando mais empregos;

4. Fortalecer a chamada “economia da plenitude”, em que as pessoas plantam mais para prover para sua própria alimentação, cuidar de sua família, aprender novas habilidades, e os recursos são melhores usados. Se podemos produzir um livro da série “Jogos Vorazes”, para ser usado por milhares pessoas em uma biblioteca, porque produzir 10 mil para serem comprados por milhares de pessoas? Teríamos um uso mais eficiente, com a mesma qualidade.

BBC Brasil – Mas haveria uma perda econômica, não? A autora deixaria de vender milhões de livros.

Eric Assadourian – Sim, mas teríamos milhares de árvores de pé. E as pessoas confundem consumo com prosperidade, mesmo que a maioria não esteja próspera. Acumulamos sacrifícios escondidos – por exemplo, na questão da mobilidade. Em vez de andar 400 metros, muitos preferem usar um carro, objeto que custará dois meses de seu trabalho, provocará poluição e ficará parado no trânsito.

Acho que o decrescimento nos deixaria mais ricos. Ganharíamos em tempo e qualidade de vida.

BBC Brasil – Ao mesmo tempo, Barack Obama recentemente comemorou indícios de retomada da indústria automobilística dos EUA, o que reforçaria o crescimento da economia americana em geral. Isso não mostra o quanto a política econômica vai na contramão do que você falou?

Eric Assadourian – Estamos presos num mito de que o crescimento econômico é essencial; a imprensa fica horrizada se não há crescimento. Se eu fosse um líder lidando com uma recessão, não buscaria o crescimento.

“Decrescimento não é o mesmo que recessão. O decrescimento é como uma dieta controlada, em que o objetivo é ficar mais saudável. A recessão é como passar fome. Agora, para fugir da recessão, estamos (os EUA) comendo loucamente de novo”

Eric Assadourian

Veja, por exemplo, que com a crise dos EUA cresceu o número de casas multigeneracionais (filhos morando com pais e avós, por exemplo). Isso estreita os laços e promove economia de gastos com creche e cuidados médicos, porque um ajuda o outro. Assim, temos menos hipotecas e menos gastos, o que pode ser visto como algo ruim para o crescimento econômico. Mas também temos menos pobreza e estamos fazendo mais com menos dinheiro.

BBC BRASIL – Esse seria o lado bom da recessão?

Eric Assadourian – Decrescimento não é o mesmo que recessão. O decrescimento é como uma dieta controlada, em que o objetivo é ficar mais saudável. A recessão é como passar fome. Agora, para fugir da recessão, estamos (os EUA) comendo loucamente de novo, com uma grande parcela da população trabalhando demais e outra sem emprego.

Os países emergentes estão estimulando o consumo interno – algo que, no caso do Brasil, ajudou o país a não ter sido tão afetado pela crise mundial. O decrescimento vale para emergentes?

Para eles, a questão não é apenas decrescer, mas sim combinar isso com crescimento verde – num mix de políticas públicas, que desestimulem a posse individual de carros para desafogar as cidades, melhoras no transporte público e desenvolvimento que não prejudique o meio ambiente. Talvez sua busca tenha de ser por progresso, em vez de crescimento econômico.

BBC Brasil – Os países emergentes estão estimulando o consumo interno – algo que, no caso do Brasil, ajudou o país a não ter sido tão afetado pela crise mundial. O decrescimento vale para emergentes?

Para emergentes como o Brasil, sugestão é apostar em crescimento verde

Eric Assadourian – Para eles, a questão não é apenas decrescer, mas sim combinar isso com crescimento verde – num mix de políticas públicas, que desestimulem a posse individual de carros para desafogar as cidades, melhoras no transporte público e desenvolvimento que não prejudique o meio ambiente. Talvez sua busca tenha de ser por progresso, em vez de crescimento econômico.

BBC Brasil – Dá para convencer um consumidor normal a pensar em termos de decrescimento?

Eu iria pelo caminho do “choice editing” (direcionar as escolhas das pessoas por meio da ação do marketing, políticas públicas, etc). É fascinante como temos pouco controle sobre nossas escolhas, como elas são determinadas inconscientemente. Atualmente, elas são direcionadas para estimular o consumo. Temos que quebrar esse processo, direcionando-o para (promover um estilo de vida) de baixo consumismo.

Você tem as expectativas de que alguma decisão nessa direção seja tomada na Rio+20?

Gostaria de dizer que sim, mas não espero esse nível de decisão política da reunião. Se conseguirmos retomar algum tipo de acordo para o clima, já será muito.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/04/120412_decrescimento_ping_pai.shtml

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Serge Latouche em Porto Alegre

Serge Latouche, em Porto Alegre. Foto: Cintia Barnho (CEA)

A UNISINOS trouxe Serge Latouche para uma semana de palestras-aulas. Dia 21.11 ele esteve presente na UNISINOS campus POA, onde pude conferir sua palestra entitulada “Desenvolvimento Humano, Decrescimento e a Sociedade Convivial“. Gravei a palestra de forma precária, no qual com um gravador consegui colocá-lo junto ao aparelho de tradução simultânea, para, obviamente, gravar em português. Infelizmente a gravação não ficou tão boa quanto imaginava, mas é possível acompanhar as palavras proferidas pelo francês do decrescimento. Gravei toda a palestra, inclusive com a parte dispensável de Plinio Alexandre Zalewski Vargas, secretário de Governança, uma da pessoas-chave da movimentação para a venda do Morro Santa Tereza para a especulação imobiliária. Fiquei me perguntando se o Latouche sequer desconfiava quem era a pessoa que dividia a palestra com ele… (Cíntia Barenho)

Mais fotos podem ser acessadas AQUI

Debate ocorreu na UNISINOS, em São Leopoldo/RS. Foto: IHU

O que realmente conta na vida não é mensurável, por isso vivemos uma “falência da felicidade quantificável”. Por outro lado, “um crescimento infinito é incompatível com um mundo finito. Quem acredita nisso ou é louco ou é economista”.

A crítica radical à economia de Serge Latouche, ele mesmo economista, além de sociólogo e antropólogo, visa a descolonizar o imaginário das “ideologias da sociedade moderna”, como indicadores a exemplo do PIB per capita.

Na noite desta segunda-feira, 21 de novembro, no câmpus de Porto Alegre da Unisinos, Latouche fez a sua primeira conferência dentro do Ciclo de Palestras: Economia de Baixo Carbono. Limites e Possibilidades, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Sua fala, intitulada Desenvolvimento Humano, Decrescimento e a Sociedade Convivial, foi comentada posteriormente por Plinio Alexandre Zalewski Vargas, diretor da Secretaria de Governança da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.

Nela, o professor de economia da Universidade de Paris XI – Sceaux/Orsay retomou o histórico do seu conceito mais importante: o decrescimento. Seu principal interesse no encontro era apresentar como é possível encontrar, por meio do decrescimento, a “felicidade na frugalidade convivial”.

Latouche começou retomando o histórico do “dispositivo” do PIB (produto interno bruto) per capita, que reduziu a felicidade a um indicador econômico. Historicamente, segundo ele, na passagem da felicidade ao PIB, ocorreu uma tripla redução: 1) a felicidade terrestre passou a ser assimilada ao bem-estar material, em sentido físico, palpável; 2) o bem-estar material foi reduzido ao que pode ser avaliado quantitativamente, estatisticamente, aos bens e serviços comercializáveis e consumíveis; 3) a variação da soma dos bens e serviços caracterizaria a diferença entre o PIB e PIL (produto interno líquido ).

Porém, criticou, o PIB só mede a riqueza comercializável, excluindo-se as transações fora do mercado, como os serviços domésticos, o voluntariado, o mercado negro etc. No caso brasileiro, exemplificou Latouche, a destruição da floresta amazônica não é contada no PIB. “O PIB mede os outputs, ou a produção, e não os outcomes, ou os resultados”, resumindo. Retomando o ex-presidente dos EUA, Kennedy, Latouche afirmou que o PIB também não inclui a saúde das crianças, a beleza da poesia, a solidez do casamento, a integridade, a inteligência e a sabedoria de um povo. “Mede tudo, menos o que faz com que a vida valha a pena de ser vivida”, resumiu.

Por isso, com o passar do tempo, ao experimentarmos que o consumo não faz a felicidade, vivemos uma crise de valores. Algumas tentativas de superar essa mensurabilidade econômica foram, por exemplo, o Genuine Progress Indicator (Indicador de Progresso Autêntico), proposto pelo economista norte-americano Herman Daly, levando em consideração as perdas causadas, por exemplo, pela poluição e pela degradação do meio ambiente. Outra proposta foi a da ONG New Economics Foundation, que, cruzando os resultados das enquetes das organizações da ONU sobre o que os anglo-saxões chamam de sentimento do bem-estar vivido (satisfação subjetiva, esperança média de vida e pegada ecológica per capita), chegaram a um Happy Planet Index (Índice do Planeta Feliz).

Segundo Latouche, também emergiu novamente uma ideia de economia civil da felicidade, desenvolvida a partir dos EUA e que tomou um novo curso na Itália. Para o pensador francês, os teóricos dessa corrente reabilitam uma certa forma de sobriedade, unindo-se a outros movimentos, como o do decrescimento. Mas – e essa é também a sua crítica – veiculam uma certa ambiguidade, deixando sobreviver o “corpo moribundo” daquilo que pretendem destruir: ou seja, uma mentalidade que tudo calcula. Abolindo a fronteira entre o econômico e o não econômico, afirmou Latouche, a teoria da economia civil deixa o caminho aberto a uma forma de pane da economização de tudo, que já estava na ideia de Malthus, tentando incluir dentro dos cálculos o que é incalculável.

Crise de valores

Em síntese, o que essas tentativas demonstram, afirmou Latouche, é que “a sociedade dita desenvolvida, da opulência, se baseia em uma produção massiva, mas também em uma perda de valores”. Assim, retomando um conceito caro a um teólogo amigo seu, Raimon Panikkar, é necessária uma metanoia, ou seja, questionar profundamente o mito do progresso indefinido. É preciso “resistir ao imperialismo da economia para reencontrar o social”. “O que realmente conta na vida não se mede”, sintetiza Latouche.

Portanto, como encontrar a felicidade dentro da frugalidade convivial? Para isso, Latouche reatualiza a intuição do teólogo Ivan Illich, ainda dos anos 1970, do termo convivialidade, que, de certa forma, encontra-se em sintonia com a proposta andina do bem-viver (sumak kawsay), que, afirma, “tem mais coerência do que os economistas, que tentam medir o que não é mensurável”.

Felicidade, para Latouche, é a “abundância frugal em uma sociedade solidária”. Uma prosperidade sem objetivo, uma sobriedade voluntária, segundo Illich. “O projeto de decrescimento que queremos – slogan para marcar uma ruptura com essa lógica do “sempre mais”, do crescimento indefinido – é uma saída do ciclo infernal da criação de necessidades e produtos”.

Esse conceito – decrescimento – nasceu em março de 2002, a partir do colóquio da Unesco“Desfazer o desenvolvimento, refazer o mundo”. Foi a última aparição pública de Ivan Illich. Em síntese, contou Latouche, chegou-se à conclusão de que é preciso combater odesenvolvimento sustentável, que é uma contradição em termos, porque o desenvolvimento “nada mais é do que uma transformação qualitativa do crescimento, e um crescimento infinito é incompatível com um mundo finito”, afirmou. “Quem acredita nisso ou é louco ou é economista”.

Futuro sustentável

Se o desenvolvimento é uma “palavra tóxica”, Latouche prefere falar de um “futuro sustentável da vida”. E esse, sim, é possível. Por isso, a proposta do decrescimento é a da autolimitação e simplicidade voluntárias, da abundância frugal, da reabilitação do espírito da doação e da promoção da convivialidade. Se na década de 1960 se falava de círculos virtuosos do crescimento, é necessário um círculo virtuoso do decrescimento. Uma “mudança de software”, ilustra Latouche, uma mudança “daquilo que os marxistas chamavam de superestrutura, que leva a uma mudança da infraestrutura”.

E ele propõe, para isso, oito passos:

  1. reavaliar
  2. reconceitualizar
  3. reestruturar
  4. realocar
  5. redistribuir
  6. reduzir
  7. reutilizar
  8. reciclar

Assim, será possível sair do paradigma que nos dominou há dois séculos, o “paradigma da economia”. “Tendemos a ver tudo sob o prisma da economia, que, no entanto, é muito recente e limitado a uma única cultura, uma dentre outras: o Ocidente”. Por isso, para ele, outra contradição em termos é a economia solidária. Em nível teórico, explicou, “é um oximoro, assim como o desenvolvimento sustentável. A economia existente não é solidária, é baseada na avidez, no lucro máximo. Caso contrário, estamos no social, no político, na solidariedade, baseada na lógica da troca, da doação”.

Portanto, sair dessa economicização, para Latouche, é uma conversão ao contrário. “Temos uma relação religiosa com a economia. É preciso nos tornarmos ateus e agnósticos do crescimento. É preciso reencontrar a abundância perdida”. Descolonizar e deseconomizar o imaginário é “redimensionar o papel do econômico no social”, limitar a avidez, limitar o “greed is good” das escolas de administração. É, em suma, reapropriar-se, enquanto sociedade, das três bases do capitalismo: o trabalho, a terra e o dinheiro. “Não é abolir o capitalismo – esclarece Latouche –, é mudar o nosso software, a nossa educação, é possibilitar regulações, hibridações e proposições concretas para chegar à abundância frugal”.

Para ajudar nessa “reformatação”, não basta seguir a “via” do decrescimento. Latouche prefere falar do “tao do decrescimento”, palavra chinesa que, além da dimensão de caminho, percurso, remete também à ética. “Não é possível encontrar a felicidade sem restringir e limitar os nossos desejos – a autolimitação que se encontra nos ameríndios, na África, no passado do Ocidente, no epicurismo. Todas as sabedorias do mundo têm essa ideia fundamental”, explica. É necessário, hoje, dominar o que os gregos consideravam como o perigo por excelência: a hybris, a desmedida.

Aceleração do decrescimento?

Em pleno andamento de um “plano de aceleração do crescimento”, Latouche tem esperança no Brasil. Para ele, o país foi um “precursor do decrescimento”, a partir das propostas nascidas em Porto Alegre, de um outro mundo possível, ou em figuras como Chico Mendes, ou no Manifesto Ecossocialista de Belém, que, segundo Latouche, está bastante próximo das ideias do decrescimento. “O Brasil tem todas as condições favoráveis para uma transição para uma sociedade da abundância frugal”. Para isso, basta superar as condições psicológicas limitadas à colonização do imaginário em torno da economia e do crescimento.

No fim do debate, para os interessados em aprofundar a reflexão, Latouche indicou o site da revista acadêmica Entropia (www.entropia-la-revue.org), dedicada ao estudo do decrescimento, que contém contribuições em francês, inglês, espanhol, italiano e também em português.

A programação do com a presença de Serge Latouche continua nesta terça-feira com a palestra Por outro modo de consumir: Descrição de algumas experiências alternativas, das 16h às 18h, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU. O restante da programação, que vai até a próxima sexta-feira, dia 25, pode ser conferido aqui.

Fonte Ecodebate e IHU On-line

Ao escutar as palavras iniciais do economista e filósofo francês, que começou por citar Hegel numa das suas obras sobre o percurso da Razão na história, que dizia “os tempos felizes são tempos em que os manuais terão páginas em branco” e, hoje, ao contrário desses tempos, vivemos num período de incertezas e o que falta é tempo para pensar, para deixarmos as fórmulas e os discursos ideológicos que são não-pensamento e procurarmos um verdadeiro pensamento que ilumine a acção, claramente percebemos que o centro da sua comunicação se centraria na questão e problema do regime democrático contemporâneo e onde ele nos conduziu e quais as vias ou caminhos para um futuro melhor, neste caso, o decrescimento como via opcional a ter em conta e credível.

É verdade que hoje vivemos numa sociedade do crescimento sem crescimento, isto é, a economia que se diz e que promete crescimento ilimitado é uma economia que acabou por se “alimentar” da própria sociedade, e que busca “crescer só por crescer” e nos conduziu e conduz cada vez mais a um estado de angústia e de desespero. Para além disto, esta é também a sociedade onde o desemprego cresce avassaladoramente e é a sua tragédia, e uma sociedade onde a taxa de suicido é um fenómeno preocupante e, no caso das crianças, deve fazer-nos parar para pensar. Mas, qual a causa apontada para esta situação? Foi e é a toxicodependência pelo consumo; foi ela quem contribuiu para o aumento da tensão social, pois este modelo de sociedade não é nem o desejável nem sustentável, quer seja a curto ou médio prazo. Muitos, inclusive, acreditaram que traria a prometida felicidade, mas estudos realizados em 2006 e 2008 ao índice de felicidade de países e seus respectivos habitantes, curiosamente, mostraram que estes não eram nem os Estados Unidos nem o Canadá ou qualquer país europeu, mas, em ambos os anos, no primeiro lugar estava a Costa Rica, em segundo, a República Dominicana e, no ano 2008, em terceiro, a Guatemala. Resultados curiosos, mas que conclusão poderemos aferir?

Segundo Latouche, que a sociedade de consumo globalizada atraiçoa as suas próprias promessas e que o peso da psique devora esta mesma sociedade (com depressões, dependências, esquizofrenias, etc.). E se esta situação se prolongar teremos uma sociedade a que “chamo da abundância frugal”. Isto é, se não sairmos da “religião” do crescimento e da sociedade do hiperconsumo, estaremos a constituir uma sociedade frugal. Aliás, outro facto apontado pelo pensador francês e inegável é o seguinte: o nosso planeta é finito e o crescimento infinito é impossível num mundo finito. Portanto, temos de falar de algo duradoiro, do que é possível, e se voltarmos a falar do que é possível e de que existem limites, talvez voltemos a ter abundância, mas já uma abundância com limites. Sinteticamente, a proposta é esta: voltarmos a encontrar uma prosperidade sem a promessa de crescimento e cada sociedade terá e deverá construir o seu futuro dentro dos limites do próprio futuro e de um planeta que é finito que para o qual se procura a sua sustentabilidade. E como tornar esta via do decrescimento exequível?

Latouche começou por chamar a atenção àquilo que apelidou do “círculo virtuoso dos oito R(s)”, a saber: reciclar; reutilizar; reduzir; revalorizar; reconceptualizar; reestruturar; redistribuir; e re-localizar, que analisou detalhadamente e exemplificando. Contudo, e sabendo que é necessário algo mais, os objectores do crescimento “oferecem” também um modelo de desenvolvimento assente no decrescimento e que passa por um programa reformista assente em 10 medidas, também elas explanadas pelo orador francês:

– “encontrar” uma pegada ecológica sustentável (devemos passar a consumir menos e de forma diferente);

– reduzir os custos do transporte derivados à internacionalização e criar ecotaxas apropriadas (diminuir os gastos energéticos e financeiros e consumir coisas locais);

– re-localizar as actividades;

– restaurar a agricultura rural (a desertificação não deixará de crescer e face a isto é preciso uma agricultura bioecológica que respeite o meio ambiente);

– reafectar os ganhos de produtividade e reduzir o tempo de trabalho para criar mais empregos;

– retomar a “produção” de bens relacionais;

– reduzir o consumo de energia de um factor 4 (desperdício);

– restringir fortemente o espaço publicitário;

– reorientar a investigação e pesquisa técnico-científica;

10ª – não deixar a Investigação apenas na mão das empresas transnacionais.

Para concluir, Latouche assentiu que tudo isto é bem mais fácil dizer do que fazer. Lembrando a célebre frase proferida pelo então Primeiro-ministro inglês Winston Churchill, a 22 de Junho de 1940, o que nos espera é “sangue, suor e lágrimas” se não sairmos desta ideologia do crescimento.

O Decrescimento é sem dúvida um desafio porque vivemos numa sociedade global que é dominada pela “religião do crescimento” e do consumo desmesurado; em contradição, é verdade e assente que não poderemos ser felizes se não nos pudermos limitar. Assim, o objectivo não de amanhã mas já no presente deve ser: “não produzir o máximo, mas viver bem com o que temos”. Esta é uma das máximas do decrescimento e, podemos ver, que muito desta filosofia já estava patente na corrente do estoicismo. Todavia, hoje, e porque vivemos já não em democracia mas naquilo a que alguns chamam de “pós-democracia”, uma sociedade dominada pelos meios de comunicação e pelos fazedores de opinião (opinion makers), por estratégias manipuladoras onde o povo já não decide; esta – o decrescimento – é mesmo, no entender de Latouche, a alternativa ao beco sem saída em que nos encontramos e é preciso arriscar.

Em síntese, o decrescimento é apresentado ao longo da argumentação do orador Serge Latouche como o garante da sobrevivência do nosso planeta num futuro não longínquo mas já próximo. No entanto, não temos – nem podemos ter, com os dados presentes – boas razões para aferir de que esta representação da realidade é a própria realidade e que será pela via do decrescimento que se solucionarão todos os problemas. Sendo o decrescimento um modelo possível, então, também ele é um modelo falível.

Miguel Alexandre Palma Costa

(Comunicação: O decrescimento: um caminho adequado para o futuro?, in IVª Conferência Internacional do Funchal, 04 e 05 de Novembro de 2011)

Para saber mais acesse o site do IHU para inscrição e maiores informações

https://i0.wp.com/unisinos.br/blog/ihu/files/2011/11/Economia-de-Baixo-Carbono.jpg

Faça as suas perguntas a Pierre Rabhi no Le Monde, sexta-feira, dia 03 de junho de 2011 às 11:30.

Pierre Rabhi. Fonte: Le Monde

Debate com Pierre Rabhi, filósofo e garnde defensor do decrescimento.

Faça suas perguntas antecipadamente

Posez vos questions en avance Consultez tous les chats

As idéias-base de Pierre Rabhi podem resumir-se à:

– Não violência;

– Pertença inter e transcultural como atitude nova dum universalismo concreto, alimentado pelas experiências singulares vividas;

– Recusa do dogma do crescimento e defesa de um decrescimento na área das tecnologias contaminantes e de esgotamento;

– Recusa de uma modernidade em que se “vive para trabalhar em vez de trabalhar para se viver” e duma “civilização de combustão triunfante” da termodinâmica dissipativa que enjeita a realização criativa do trabalho manual e intelectual.

Rabhi desenvolveu uma ação em várias frentes. Da problemática altermundialista à intervenção local, abrangendo experiências em locais diversos como França, Marrocos, Burkina Fasso, etc. Pensar e agir criando alternativas participadas.

A palavra de ordem do movimento “Terre et Humanisme”, de que é Presidente de honra, consiste em promover experiências exemplares de agroecologia por todo o território – criar “um oásis em cada lugar”.

O movimento “Terre et Humanisme” tem apoiado inúmeras iniciativas em África e na Europa. Tem desenvolvido ações de formação, particularmente em agro-ecologia e na pedagogia social. Tem-se oposto à introdução de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) levando a cabo ações comuns, com várias organizações, contra as multinacionais responsáveis pela introdução dos OGM. Pierre Rabhi tem trabalhado em cooperação com a Universidade “Terre du Ciel” e tem sido uma voz activa na política favorável à consciência ecológica.

Fonte: http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=176&doc=12960&mid=2

Enviado por Alfredo Martin

No domingo do dia 05 de junho convidamos você para o Picnic pelo Decrescimento.

Venha se reunir com amigos, com futuros amigos, parentes e viznhos para fazer uma deliciosa refeição e conhecer e difundir o Decrescimento.

A edição de 2010 foi organizada em 70 cidades em mais de 20 paises. Neste ano de 2011 o Brasil terá seu primeiro Picnic pelo Decrescimento.

Como criar um Picnic na sua cidade?

Basta entrar na página Picnic 4 degrowth! e se não houver um picnic na sua cidade, crie um cicando no botão embaixo do mapa. Se já hover, entre em contato com o “animador” do picnic.

Depois disto é só divulgar, juntar os amigos, preparar a comida, a música, as brincadeiras etc. Os materiais para divulgação do decrescimento para serem distribuídos nos picnics estão sendo elaborados por um grupo de pessoas, com a participação do Decrescimento-Brasil. Caso queiram os materiais entre em contato em decrescimentobrasil@gmail.com.

Participe!!! Saiba mais em:  http://picnic4degrowth.net/

O que é o Decrescimento

“O decrescimento é um slogan político (…) que visa acabar com o jargão do produtivismo (…). A palavra de ordem ‘decrescimento’ tem como principal meta enfatizar fortemente o abandono do obejtivo do crescimento ilimitado (…) com consequências desastrosas para o meio ambiente e portanto para a humanidade.

Para nós, o decrescimento não é o crescimento negativo (…). Sabe-se que a mera diminuição da velocidade de crescimento mergulha nossas sociedades na incerteza, aumenta as taxas de desemprego e acelera o abandono dos programas sociais, sanitários, educativos, culturais e ambientais que garantem o mínimo indispensável de qualidade de vida (…).

Assim como não existe nada pior que uma sociedade trabalhista sem trabalho, não há nada pior que uma sociedade de crescimento na qual não há crescimento. Essa regressão social e civilizacional é precisamente o que nos espreita se não mudarmos de trajetória. Por todas essas razões, o decrescimento só pode ser considerado numa “sociedade de

decrescimento”, ou seja, no âmbito de um sistema baseado em outra lógica (…).

É uma proposta necessária para que volte a se abrir o espaço da inventividade e da criatividade do imaginário bloqueado pelo totalitarismo economicista, desenvolvimentista e progressista (…).

Sua meta é uma sociedade em que se viverá melhor trabalhando e consumindo menos (…).”

(Serge Latouche, Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno)

Fonte: http://decrescimentobrasil.blogspot.com/2011/05/picnic-global-pelo-decrescimento.html

Veja mais sobre o descrescimento em: https://centrodeestudosambientais.wordpress.com/2010/01/05/descrescimento-sustentavel-ja-ouviu-falar/

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“De tanto postergar o essencial em nome da urgência, termina-se por esquecer a urgência do essencial.” Hadj Garm'Orin

Apresentação

O Centro de Estudos Ambientais (CEA) é a primeira ONG ecológica da região sul, constituída em Rio Grande/RS/Brasil, em julho de 1983.

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