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A fraude de Barra Grande foi esquecida?
novembro 10, 2010 in Biodiversidade e Ecossistemas, Ecologia Política | Tags: Alcoa, Biodiversidade e Ecossistemas, Bioma Mata Atlântica, Bradesco, bromélia Dyckia distachya, Camargo Correa, consórcio Energética Barra Grande S.A., CPFL, EIA-RIMA fraudulento, empresa Engevix, Extinção, floresta com araucária, IBAMA, Licenciamento Ambiental, Licenciamento de Hidrelétrica, lista da flora ameaçada do Brasil, UHE Barra Grande, Votorantim, Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica | 2 comentários
- Cânion de Encanados que ficou debaixo d’água.
por ismaelvbrack
O consórcio Energética Barra Grande S.A. – conhecido como BAESA e formado pelas empresas Alcoa, Votorantin, Bradesco, Camargo Correa e CPFL – vem recebendo diversos prêmios, em diversas áreas, por parte de entidades públicas e privadas. O que parece já estar esquecido nessas premiações é que o recente episódio da polêmica e irregular licença a este empreendimento acabou causando uma das maiores tragédias sobre a biodiversidade do sul do Brasil.
A BAESA se baseou em um EIA-RIMA fraudulento, entregue ao IBAMA pela empresa Engevix. Neste relatório foi sonegada a informação da presença de mais de 6 mil hectares de floresta com araucária em estado virgem ou avançado de regeneração, que juntamente com os mil hectares de campos naturais formavam mais de 85% da área alagada. A empresa apresentou um gráfico, em seu estudo, que dava conta de somente 9% de florestas, o que depois se comprovou que eram 70% de florestas. No tal relatório, era afirmado que na área afetada “a maior parte a ser encoberta é constituída de pequenas culturas, capoeiras ciliares e campos com arvoredos esparsos”, e que “a formação dominante na área a ser inundada pelo empreendimento é a de capoeirões que representam níveis iniciais e, ocasionalmente, intermediários de regeneração”. O documento inclusive afirmava que a obra não traria graves prejuízos a bens ambientais importantes ou protegidos pela legislação.
Também foi completamente ignorada a presença da bromélia Dyckia distachya, que constava na lista da flora ameaçada do Brasil (IBAMA,1992) e era endêmica dos rios da região, estando hoje praticamente extinta na natureza. A ameaça a extinção também se deu nos peixes exclusivos de corredeiras, que ali viviam e a uma infinidade de espécies pouco estudadas e que ainda não tiveram nenhum acompanhamento ou monitoramento satisfatórios.
O assunto só veio à tona quando a empresa já estava com um muro de 185 metros de altura quase construído e que inundaria mais de 116 km de rio, com a floresta que foi escondida pela empresa e ignorada pelo IBAMA, pois veio das mais de mil famílias desalojadas, muitas sem indenização, que trancaram os acessos à barragem. O governo acabou por reconhecer o erro, mas, apesar da pressão dos movimentos sociais e ambientalistas, deu carta branca à BAESA, alegando o fato consumado, prejuízos econômicos dos gastos já despendidos na obra.
Charge onde a, na época, ministra do MME, Dilma Rousseff, negocia o Termo de Compromisso com o MP.
Apesar de a área ser definida como de Extrema Importância para a Conservação da Biodiversidade, pelos mapeamentos do MMA (2003), pertencer à Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Natural Mundial e protegida pela Constituição Federal, o IBAMA e o MMA não tomaram providências para sua proteção legal, quando da emissão das licenças ambientais, entre 2001 e 2005.
Destruiu-se com o coração da floresta mais contínua e exuberante da bacia do rio Pelotas-Uruguai, justamente onde o vale íngreme do rio não permitia a agricultura ou outras atividades econômicas, fato que não é o caso do planalto, acima do vale, onde as florestas restantes são escassas e muito isoladas e impactadas. Depois de Barra Grande, ainda sobram florestas consideráveis a montante, na área agora sujeita por outra hidrelétrica: a UHE de Pai Querê.
Em 2004, a empresa foi obrigada a assinar um Termo de Compromisso com o governo federal e a justiça, sendo que muitas pendências duram até hoje (ver aqui). Segundo o MAB, também estão pendentes indenizações com algumas famílias atingidas.
Vale lembrar que a empresa continuou realizando os desmatamentos quando houve uma liminar, que durou alguns dias, suspendendo o corte de árvores da área.
Um dos aspectos mais patéticos neste triste episódio foi a constatação de que o fechamento das comportas da hidrelétrica se deu de forma apressada, quando da emissão da L.O. (Licença de Operação), em julho de 2005. Para o consórcio foi uma maneira de não gastar nenhum tostão a mais na supressão de metade da vegetação florestal que tinha permanecido e que ficaria afogada com a barragem, e “não perder mais tempo” para retirá-la. Mas não foi só isso, também foi uma maneira de impedir que as ações na justiça, por parte das ONGs, tivessem algum efeito e “atrasassem” o fechamento das comportas e a geração de energia por parte da hidrelétrica. Assim, afogar de vez a floresta foi uma maneira de resolver com celeridade a questão. Ou seja, garantir que o objeto das ações não tivesse mais sentido, pois a natureza já tinha sido destruída irreversivelmente. Como resultado, parte da floresta afogada, até hoje, está apodrecendo embaixo de um reservatório de 9,2 mil hectares de águas praticamente paradas.
Apesar de todas as irregularidades e pendências, o consórcio BAESA ganhou os seguintes prêmios (retirado da página da empresa):
* Prêmio Empresa Cidadã ADVB – 2005, 2007, 2008, 2009, 2010
* Prêmio Empreendedor José Paschoal Baggio – 2006, 2008
* Prêmio Fritz Müller – 2007, 2008, 2009
* Prêmio Empresa Amiga da Criança – 2008, 2009.
* Excelência em Gestão Sustentável – 2008, 2010.
* Prêmio Responsabilidade Social – 2008
* Empresa Amiga da Criança – 2009
* Prêmio Ser Humano – 2009
* Prêmio Ser Humano Oswaldo Checchia – 2010
Como uma empresa que desalojou centenas de famílias, muitas das quais ainda esperam indenização, recebe prêmios de “empresa cidadã”, de “amiga da criança”, de “responsabilidade social”, de “ser humano”? Como uma empresa que causou a destruição dos remanescentes florestais mais exuberantes e contínuos da Mata Atlântica, na bacia do rio Pelotas, configurando-se em uma das maiores tragédias à biodiversidade do sul do país – ainda por cima baseada em um relatório considerado fraudulento – recebe prêmios de “desenvolvimento sustentável”, de “gestão socioambiental” e de “preservação ambiental”? Como conceber que um órgão ambiental governamental, a FATMA, possa conceder um prêmio a uma empresa que esteve envolvida com desastres desta magnitude?
Essa situação de hipocrisia ambiental deve ser denunciada e ilustrar o nível de comprometimento econômico que toma conta de setores públicos e privados, envolvidos com estes empreendimentos. Sem dúvida, fazem parte de uma página infeliz de nossa história na área ambiental, resultado revoltante de um “toma-lá-dá-cá” de favores entre setores empresariais e governamentais, para “dourar a pílula” do processo de degradação atual. Trata-se de um enorme desrespeito às famílias desalojadas e um enorme delito aos milhares de hectares cobertos por plantas nativas e animais silvestres que desapareceram debaixo d’água, além de uma afronta a todas as pessoas que lutaram contra esse triste e histórico crime contra a natureza.
Para saber mais sobre o caso da UHE Barra Grande, acesse o livro Barra Grande: a hidrelétrica que não viu a floresta.
Fonte SOS Rio Pelotas
Corra (em direção contrária) para não se comprometer…
abril 26, 2010 in Blog do CEA | Tags: Agente Laranja, Al Gore, Ambientalismo de Mercado, Água, Índia, Bhopal, Bradesco, Cíntia Barenho, Corra pela Água, Dow "Run for Water" Live Earth, Dow Chemical, Dow-sponsored "Run for Water", Greenwash, grupo YesMen, Jorge Benjor, Live Earth, passivos socioambientais, Run For Water, The International Campaign for Justice in Bhopal (ICJB), The Vietnam Agent Orange Relief and Responsibility Campaign, Union Carbide, Vietnã, WWF | Deixe um comentário
Dow Chemical, Jorge Benjor, WWF e Live Earth preservando o planeta?
por Cíntia Barenho
Não tinhamos conseguindo publicar tal famigerada notícia, mas hoje ao chegar em casa, vejo um certo programa, num certo canal propagandeando tal aberração do mundo do ambientalismo de mercado.
Isso mesmo, a Dow Chemical – aquela que criou o agente laranja, que adquiriu a Union Carbide, a (ir)responsável pelo acidente de Bhopal (Índia) – é a grande patrocinadora do megaevento mundial promovido pela LiveEarth. O Run For Water – Corra pela Água – é uma corrida de 6km, pois é a média que crianças e mulheres percorrem para buscar água (explicou um empresário entrevistado. Bonito, não?). E no Brasil, a corrida no Rio de Janeiro contou com um show de Jorge BenJor, que se declarou (nesse programa de TV) “preocupado com o planeta onde vive” (ainda bem!!). Além deste, outros artistas, celebridades e atletas também davam entrevistas ao programa, propagandeando a sua grande preocupação com o planeta, ou melhor, com a água.
Além da Dow Chemical (agente laranja), o Bradesco (grande corporação bancária) também patrocinou (muito pouco pelo nome do evento) e a ambientalista de mercado, WWF (aquela que tem um mimoso panda como mascote) também apoiou expressivamente a corrida, pelo menos no Brasil.
Sem dúvida que a questão da água deve ser amplamente trabalhada e divulgada. Já se faz real a escassez de água em vários países do mundo e inclusive o Brasil. Mesmo que nosso país detenha 12% da agua doce do mundo, a mesma se encontra mal distribuída (LEia em “O Brasil tem 12% da água doce do planeta, mal distribuída porém”).
No entanto, de boas intenções o mundo já está cheio! Esse tal greenwashing (marketing dito “verde”, mas nesse caso com cara de agente laranja) evidencia o que entidades ambientalistas/ecologistas sérias e comprometidas com a luta ecológica, com uma educação ambiental crítica e transformadora, vem denunciando os passivos socioambientais que tais corporações deixam nas regiões por onde degradam, o marketing verde que tais empresas fazem buscando marcarar suas (ir)responsabilidades, as entidades apenas comprometidas com o mercado do adestramento ambiental, o descomprometimento da grande mídia (PIG) e artistas que promovem tais descalabros, bem como, denunciando parte dessas entidades ambientalistas, geralmente big ONGs, que se aliciam, se dizendo neutras, a estas empresas degradadoras.
Enfim, em caso de dúvidas, corra (em direção contrária) para não se comprometer…
Nós do CEA não nos comprometemos!
Saiba mais:
* Agente Laranja: O Agente laranja é uma mistura de dois herbicidas: o 2,4-D e o 2,4,5-T. Foi usado como desfolhante pelo exército norte-americano na Guerra do Vietnã. Ambos os constituintes do Agente Laranja tiveram uso na agricultura, principalmente o 2,4-D vendido até hoje em produtos como o Tordon. Fonte: Wikipedia
The Vietnam Agent Orange Relief and Responsibility Campaign aqui
* Acidente (crime) Bhopal: Na madrugada de 03/12/1984, uma nuvem tóxica de isocianato de metila causou a morte de milhares de pessoas na cidade de Bhopal, a capital de Madya-Pradesh, na Índia central. A emissão foi causada por uma planta do complexo industrial da Union Carbide situada nos arredores da cidade, onde existiam vários bairros marginais. Fonte: CETESB
The International Campaign for Justice in Bhopal (ICJB) aqui
*LiveEarth: empresa fundada pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore. Aquele do documentário “Uma verdade inconveniente”
Um grupo americano, o The Yes Men, promoveu um protesto interessante na corrida de Nova York. Confira aqui
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